Introdução
Quando a observância do Sábado for encarada como uma bênção de Deus para o homem, e considerada na sua verdadeira perspectiva, será bem mais apreciada e experimentada.
Não é necessário afastar–se do relato do Gênesis, a fim de concluir a relevância que este repouso representa para o povo de Deus. Gênesis 2:1–3 apresenta o pressuposto de que o descanso do Sábado é imperativo para Deus. Por conseguinte, deve ser para o Seu povo.
Assim, pois, foram acabados os céus e a terra, e todo o seu exército. E havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera (Gênesis 2:1–3).
Três Importantes Verbos
Uma leitura reflexiva nos ajudará a entender o propósito divino para o Sábado. O texto que acabamos de apreciar destaca três verbos que constituem uma chave importantíssima no estudo deste assunto: Descansou, abençoou, santificou. Se pudermos entender a magnitude da mensagem embutida nestes três verbos, se abrirá perante nossos olhos um arcabouço de riquezas espirituais sobre o repouso divino para o homem.
Descansou
Sabemos pelo texto de Isaías 40:28 que Deus não se cansa. O cansaço é uma intempérie da natureza humana. Se o Senhor descansou naquele primeiro Sábado da semana da Criação, segundo o relato bíblico, só o podemos entender a partir da idéia de um repouso comemorativo. O Criador estava estabelecendo um vínculo do descanso sabático com a semana da Criação, tornando–o um memorial de sua atividade criadora.
Abençoou
Tendo em vista que descansou, também abençoou; e este último verbo amplia a importância das atribuições do Sábado.
Para o patriarca Abraão, a bênção de Deus significou muito mais que apenas um bem retórico. Havia uma implicação de profundas consequências naquela bênção. Examinemos Gênesis 12:2-3, “De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra”.
Em razão dessa bênção, os que fossem amigos de Abraão também seriam amigos de Deus, os seus inimigos seriam inimigos de Deus. A declaração de bênção sobre o patriarca indicava um vínculo especial de mútua apreciação (ver também Gênesis 27:32-33; Num. 22:6; 1Cron. 17:27).
Em relação ao Sábado não é diferente. A atribuição de uma bênção divina sobre ele o destaca definitivamente dos outros dias, e estabelece um ponto em comum entre Deus e o Seu povo peculiar.
Santificou
A expressão santificação como usada na Bíblia tem a sua origem nos dois idiomas básicos usados para a sua composição, o hebraico e o grego. Vejamos o que o comentário Bíblico Adventista diz a respeito:
“Santificação. Do grego hagiasmos, “santidade”, “consagração”, “santificação”, de hagiazo, “tornar santo”, “consagrar”, “santificar”, “separar”; equivalente ao Hebreu qadash, “separado do uso comum”. Como os teólogos modernos o chamam, a santificação denota um processo de desenvolvimento do caráter, ou o resultado desse processo.”[1]
“O ato de santificação consistia em uma declaração de que o dia era santo, ou separado para propósitos santos. Como mais tarde o monte Sinai foi santificado (Ex. 19:23), ... investido com santidade como a residência de Deus. Arão e seus filhos foram santificados, ou consagrados para o ofício sacerdotal (Ex. 29:44). O ano do Jubileu foi santificado ou devotado para propósitos religiosos (Lev. 25:10). Aqui, da mesma forma o sétimo dia foi santificado, e como tal, proclamado para ser um santo dia. Este ato de abençoar o sétimo dia e declará–lo santo foi feito no interesse da raça humana, para cujo benefício o Sábado foi instituído... “O Sábado foi feito por causa do homem” (Marcos 2:27).”[2]
A Posição do Sábado no Relato da Criação
A santificação do Sábado acontece na linha divisória entre o fim da primeira história da Criação (Gênesis 1:1–2:3) e o começo da segunda história que lida com o homem e o jardim do Éden (Gênesis 2:4–25). Essa colocação do sétimo dia no ponto divisório implica o seu papel significativo: A celebração e inauguração da história da humanidade.
Na primeira história da Criação, o sétimo dia está estreitamente relacionado com as origens humanas. Ele acontece após a Criação e às bênçãos sobre os elementos criados, inclusive o homem (Gênesis 1:26–31). De fato, a história do homem e do Sábado não apenas é narrada em sequência, mas também recebe maior cobertura do que todos os outros eventos da Criação. Isto reflete tanto a sua interdependência quanto importância.
O primeiro dia completo da vida de Adão ele não despendeu trabalhando, mas passou celebrando com o Criador a Sua obra completa e perfeita. Havia uma interligação entre a criatura e o Criador estabelecida pela semelhança entre ambos (Gênesis 1:26). Por essa razão, a injunção do quarto mandamento para que o homem celebre o dia da Criação repousando no Sábado, estava baseada na responsabilidade de imitar o padrão estabelecido por Deus na semana da Criação.[3]
Conclusão
Portanto, sem nos afastar muito do relato do Gênesis é possível entender que o Sábado é um repouso divino para as inquietudes humanas. Através dele, embora vivendo no início do século vinte e um, o homem poderá se reportar àquele primeiro repouso quando Adão festejou a Criação da Terra e à sua própria criação tendo como companhia o Grande Benfeitor da humanidade, o próprio Deus.
Pastor Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral.
[1] Horn, Siegfried H., Seventh-day Adventist Bible Dictionary (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association) 1979, 1CD-Rom.
[2] “And sanctified it” [Gn 2:3], Nichol, Francis D., The Seventh-day Adventist Bible Commentary, (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1954), 1:220-221.
[3] Samuele Bacchiocchi, Divine Rest for Human Restlessness (Roma: The Pontifical Gregorian University Press, 1980), 20, 21.
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