terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Religiões e Seitas - Conflitos de Ideias e Discriminação


RELIGIÕES E SEITAS, CONFLITOS DE IDÉIAS E DISCRIMINAÇÃO
Não existe ninguém que seja inteiramente autônomo no terreno da religião. Normalmente as crenças pessoais estão atreladas a alguns fatores que exercem forte influência na escolha de certo segmento religioso. Entre esses, se encontram a família, o lugar de nascimento e da criação, os amigos, a formação acadêmica, etc.
Porém, todo bom cristão sabe que a Palavra de Deus deve ser a maior autoridade na sua experiência devocional. Contudo, Deus decidiu conduzir a Sua obra através da Igreja, composta pela comunidade dos que Lhe servem. E desde os primórdios o Seu povo tem sofrido desprezo, ataques e o estigma de sectarismo.
Num universo de tantas denominações reivindicando exclusividade, onde a diversidade doutrinária separa os diferentes grupos, não admira que tantas pessoas sintam medo da aproximação do desconhecido. Por isso, o investigador sincero deveria indagar qual a fronteira existente entre a ortodoxia e o sectarismo.
Deus colocou a Sua Palavra nas mãos dos homens e lhes deu liberdade para escolher atendê-la ou não. Porém, há aqueles que preferem deixar essas escolhas, sob a tutela de outros, normalmente líderes espirituais carismáticos. Aceitam que estes arbitrem sobre o certo e o errado, mesmo que suas opiniões contrariem frontalmente o que está escrito. Também aceitam gratuitamente que lhes definam o que é ou não ortodoxia.
Os dicionários definem “ortodoxia” como, “louvor correto” ou “crença correta” (em oposição a HERESIA). Ser ortodoxo implica identificar-se de forma sistemática com a crença e com a adoração da fé cristã (Grenz, Guretzki e Nordling, Dicionário de Teologia, 98). A Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, afirma que o termo tem origem grega (de orthos “certo”, e doxa, opinião), o que significa crença correta, em contraste com heresia ou a heterodoxia (Elwell, ed., “orthodoxia”, 70).
Historicamente, os Protestantes definem como ortodoxa a denominação que crê na doutrina da Trindade, na divindade de Cristo, no nascimento virginal, na vida sem pecado e no sacrifício expiatório de Cristo sobre a cruz, na Sua ressurreição corpórea e ascensão à destra do Pai, na salvação pela graça mediante a fé, na santificação pela posse do Espírito Santo e no breve retorno de Cristo em glória e majestade (Paxton, O Abalo do Adventismo, 13-14).
Por outro lado, uma seita é definida como: a) “escola”, “facção”, subgrupo de uma corporação maior, identificada por liderança, ensinos e práticas próprios; b) grupos que se separaram de outro maior e mantêm identidade própria; c) ostentam crenças contrárias aos ensinos ortodoxos seguidos pela maioria; d) movimento desorganizado; e) acredita ser a igreja verdadeira e exclui todas as outras (Grenz, Guretzki e Nordling, 122); f) Vine diz que uma pessoa sectária é aquela que se apega a opiniões errôneas movida pela preferência pessoal ou a expectativa da vantagem (2 Pe 2:1); g) a “heresia” é algo escolhido, uma opinião voluntariosa (Vine, Unger e White Jr., Dicionário Vine, 691).
Tendo em vista a definição desses dois conceitos, é possível concluir que existem duas espécies de seitas. Uma no sentido positivo e a outra com conotação negativa. A Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã reconhece que os primeiros cristãos que se separaram do judaísmo foram etiquetados de “seita” (“seitas”, “sectarismo”, 375). Ver Atos 24:5, 14; 28:22. O mesmo aconteceu com os protestantes que se separaram da Igreja Católica. O termo também é aplicado a grupos que mantêm sua identidade, sem, contudo, se separar dos grupos maiores a que pertencem. Bons exemplos são os fariseus e os saduceus, e os puritanos na Igreja Anglicana, (Idem). Ver Atos 5:17; 15:5; 26:5; Filipenses 3:5.
A mesma enciclopédia afirma que num sentido mais amplo, “sectarismo” diz respeito ao processo histórico através do qual todas as divisões das grandes religiões da humanidade tomaram lugar. E que muitas seitas surgiram com o fim de exigir maior lealdade e dedicação pessoal, não encontradas nas igrejas mães. O pioneiro no estudo de seitas e religiões, Ernst Troeltsch concluiu que “uma seita” é um grupo religioso formalmente organizado que surge como protesto contra a religião dominante de uma sociedade, entrando também em competição com a mesma” (Idem).
Com a conotação negativa, uma seita constitui um grupo herético. No meio evangélico, a palavra “seita” recebeu essa concepção através do livro de Jan Van Baalen, O Caos das Seitas publicado em 1938, no qual o autor condena vários grupos religiosos (Idem, 376).  Isso, pelo fato dessas corporações, na sua maioria, ensinarem concepções errôneas a respeito da natureza de Deus ou da pessoa de Cristo (Grenz, Guretzki e Nordling, 66); denotam heteredoxia doutrinária estrita, isto é, ensinos estranhos à Palavra de Deus e que merecem censurar (Douglas, The New International Dictionary of the Christian Church, “heresy”, 464).
Seria o Adventismo do Sétimo Dia uma seita, no sentido contemporâneo do termo? O Dr. Walter Martin, considerado a maior autoridade do mundo evangélico sobre o assunto, declarou: “... Há vários anos conduzi uma rigorosa reavaliação dos Adventistas do Sétimo Dia... Segundo minha convicção, uma pessoa não pode ser um verdadeiro testemunha de Jeová, mormom, cientista cristão, unitariano, espírita, etc., e ainda ser um cristão no sentido estrito do termo, mas é perfeitamente possível ser um adventista do sétimo dia e ainda ser um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo...  Por isso, é nossa opinião que o adventismo do sétimo dia como uma denominação é essencialmente cristão no sentido de que todas as denominações e grupos que professam o Cristianismo são cristãos ao se conformarem com a missão clássica do Cristianismo como dada na Bíblia...  (Martin, The Kingdom of the Cults, 409, 411).
O teólogo protestante, Dr. Geofrrey J. Paxton comenta em seu livro, O Abalo do Adventismo que “a impressão de que o adventismo do sétimo dia é pouco melhor do que uma seita não-cristã não resiste a um exame sério” (pág. 13). Depois de demonstrar que os adventistas crêem nas doutrinas basilares do Cristianismo: na doutrina da Trindade, na divindade de Cristo, no nascimento virginal, na vida sem pecado e no sacrifício expiatório de Cristo sobre a cruz, na Sua ressurreição corpórea e ascensão à destra do Pai, na salvação pela graça mediante a fé, na santificação pela posse do Espírito Santo e no breve retorno de Cristo em glória e majestade, ele conclui: “Não, seja o que for que pensemos sobre essa ou aquela doutrina ‘particular’ adventista, temos de reconhecer o movimento como sendo cristão” (pág. 14).
Ao fazer referência a essa ou aquela doutrina ‘particular’ adventista, o Dr. Paxton certamente alude à observância do sábado, à crença na imortalidade condicional da alma, à doutrina do aniquilacionismo (os ímpios não permanecerão para sempre no inferno, mas serão completamente destruídos pelo fogo eterno), aos ensinos da temperança cristã e aos escritos proféticos de Ellen White, por exemplo.
Todas essas crenças são sustentadas pelo testemunho das Escrituras, ainda que não sejam aceitas por grupos evangélicos respeitados. No entanto, essas doutrinas foram praticadas por grandes vultos do passado, alguns dos quais figuraram como membros de denominações reconhecidamente sérias dos nossos dias.
Entre esses se encontram o professor de matemática da Universidade de Cambridge William Whiston (m. 1752), o advogado, Sir William Tempest (m. 1761), o médico da corte, Dr. Peter Chamberlen (m. 1684), o clérigo anglicano Francis Bampfield e o orador da Commonwealth da Casa dos Comuns, Thomas Bampfield, todos foram fiéis observadores do sábado (Froom, The Prophetic Faith of our Fathers, vol. 4, 907-908). Além disso, figuras importantes do mundo teológico atual, como o Dr. John Stott, fiel teólogo anglicano, e o Dr. Oscar Cullman (m. 1999), teólogo luterano conservador, abraçaram a crença na imortalidade condicional do homem.
Conheça os adventistas do sétimo dia, suas instituições de ensino, seus hospitais e clínicas, suas fábricas de alimentos saudáveis, sua casa publicadora, responsável por literaturas como a revista “Vida e Saúde”, mas, principalmente, conheça a sua doutrina. Assim, pelo impulso e orientação do Espírito Santo, e o favor da graça do Senhor Jesus Cristo, o leitor entrará em contato com as mais sublimes verdades do Evangelho e a mensagem de Deus para o Seu povo nestes últimos dias!



Pr. Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral.

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