sábado, 28 de janeiro de 2012

QUANTAS PESSOAS EXISTIAM NO MUNDO QUANDO CAIM SE CASOU?

    É bastante comum na minha função ouvir esta pergunta. Com frequência, as pessoas assim que tomam conhecimento de que há um pastor por perto nos indagam sobre o tema. Na grande maioria das vezes essas indagações são sinceras, e em face disso não se pode simplesmente responder. É preciso dar uma resposta que satisfaça. Pensando nos leitores do nosso blog, decidi postar este artigo, a fim de alcançar um grande número de pessoas ávidas por entender o assunto.
    Em primeiro lugar, deve-se levar em consideração a fonte do relato, ou seja, a Bíblia. Muitos pesquisadores erram ao tentar interpretá-la sem levar em consideração a sua origem semítica. A Bíblia é uma coleção de livros orientais e bem antigos. Para compreendê-la é necessário pensar ou tentar pensar como um oriental. O Dr. William Shea (ex-diretor associado do Biblical Research Institute em Silver Spring, Maryland, professor de teologia com doutorado em Medicina e em estudos do Oriente Médio) afirma: “No pensamento moderno europeu-ocidental, nós raciocinamos da causa para o efeito. Coletamos todos os dados e depois os sintetizamos em uma hipótese. Finalmente refinamos essa hipótese até se tornar uma teoria. Este é o processo seguido pelo moderno método científico.
    Mas os antigos não eram modernos e nem cientistas, mas computavam dados à sua própria maneira. Ao mesmo tempo em  que eram capazes de registrar os fatos em ordem cronológica como fazemos, também utilizavam uma abordagem que envolvia o raciocínio do efeito para a causa” [William H. Shea, The Abundant Life Bilbe Amplifier (USA: Passific Press Publishing Association, 1996), 23.]
    Leiamos o relato que se encontra em Gênesis capítulo quatro:
    “Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim; então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do SENHOR. Depois, deu à luz a Abel, seu irmão. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador... Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estando eles no campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu irmão, e o matou... E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim. És agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão. Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra. Então, disse Caim ao SENHOR: É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me; serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará... Retirou-se Caim da presença do SENHOR e habitou na terra de Node, ao oriente do Éden. E coabitou Caim com sua mulher; ela concebeu e deu à luz a Enoque. Caim edificou uma cidade e lhe chamou Enoque, o nome de seu filho.” (Versículos 1, 2, 8, 10-14, 16 e 17) [Salvo indicação contrária, todas as referências bíblicas citadas neste trabalho são da Edição Almeida Revista e Atualizada no Brasil (ARA), Sociedade Bíblica do Brasil ed., (São Paulo: Bíblia Online, 2002), 3.0, 1CD-Rom.]
    Um fato notório nos relatos bíblicos é o lapso de tempo que pode transcorrer entre um versículo e outro. Com muita frequência, os autores omitem vários anos de fatos quando esses não são relevantes para eles, ou quando não constituem o cerne do assunto tratado. Esse fenômeno pode ser visto na abordagem da vida de Moisés em Êxodo 2:9 a 11.
“Então, lhe disse a filha de Faraó: Leva este menino e cria-mo; pagar-te-ei o teu salário. A mulher tomou o menino e o criou. Sendo o menino já grande, ela o trouxe à filha de Faraó, da qual passou ele a ser filho. Esta lhe chamou Moisés e disse: Porque das águas o tirei. Naqueles dias, sendo Moisés já homem, saiu a seus irmãos e viu os seus labores penosos; e viu que certo egípcio espancava um hebreu, um do seu povo.”
    Toda a passagem da vida de Moisés no Egito é omitida para salientar o que parecia ser mais relevante aos olhos do narrador.
Quando Lucas discorre sobre a vida de Jesus Cristo no seu Evangelho, também usa dessa modalidade. No capítulo dois ele aborda as circunstancias do nascimento de Jesus e no capítulo três passa a narrar o início do Seu ministério, omitindo os anos que transcorrem entre os doze e os trinta anos de idade. O mesmo acontece com os outros evangelistas. Essa moldura de apresentação dos fatos pelos escritores bíblicos pode sugerir um grande intervalo de tempo entre o assassinato de Abel e o casamento de Caim.
    Há ainda outro fator preponderante na interpretação desse episódio da história de Caim. Nos tempos bíblicos as mulheres não eram mencionadas nas listas de genealogias, o que leva a supor que Adão e Eva poderiam ter concebido filhas entre o nascimento de Caim e Abel (Gênesis 5:4), e possivelmente o primeiro já fosse casado quando matou seu irmão, pois o texto não diz que ele se casara depois do crime, mas que coabitou com sua mulher depois de mudar-se para a terra de Node: “Retirou-se Caim da presença do SENHOR e habitou na terra de Node, ao oriente do Éden. E coabitou Caim com sua mulher; ela concebeu e deu a luz a Enoque, o nome de seu filho.”
    “Sem dúvida, quando Caim saiu da presença do Senhor, foi acompanhado de uma irmã simpatizante. De acordo com Gên. 5:4, Adão teve filhos e filhas. Naquele tempo da história humana era correto e natural se casar com irmã. Gên. 4:17 – 24 nomeia as gerações de Caim como segue: Adão, Caim, Enoc, Irad, Mehujael, Methusael e Lamec, que teve três filhos: Jabal, Jubal e Tubalcaim” [Frank Lewis Marsh, Estudos Sobre Criacionismo (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira), 287, 288.]
    O doutor Adam Clarke faz um interessante cálculo para chegar ao número de pessoas que existiam na Terra quando Caim cometeu o primeiro crime da história humana. Segundo ele, a morte de Abel tomou lugar no centésimo vigésimo oitavo (ou nono) ano do mundo. Supondo que Adão e Eva não tiveram outros filhos além de Abel e Caim no ano 128 do mundo, embora tivessem filhas casadas com estes filhos, seus descendentes comporiam um considerável número. Supondo ainda que houvessem casado no nonagésimo ano do mundo, poderiam facilmente cada casal ter tido oito filhos, alguns do sexo masculino e outros do sexo feminino, no vigésimo quinto ano. No quinquagésimo ano poderia ter procedido deles 64 pessoas de uma linhagem direta. No septuagésimo quarto ano haveria 512. No nonagésimo oitavo ano, 4096. No centésimo, vigésimo segundo ano, eles somariam 32768 pessoas. Se a esses somarmos os outros descendentes de Caim e Abel, seus filhos e seus netos, teremos de acordo com o cálculo acima, no ano cento e vinte e oito, 421164 homens adultos e capazes, sem contar as mulheres ou velhos e jovens de dezessete anos para baixo.   
    No entanto, este cálculo pode ser discutido, tendo em vista que não há evidência de que os patriarcas antediluvianos tivessem filhos antes dos 65 anos de idade. Por isso, partindo do pressuposto que Adão aos cento e trinta anos de idade tivesse cento e trinta filhos, o que é bem possível, e cada um desses filhos de 65 anos de idade, um filho em cada ano sucessivo, o total no ano 130 da existência do mundo, somaria 1219 pessoas; um número suficiente para gerar várias vilas e para excitar a apreensão de Caim quanto a um suposto vingador [Adam Clarke, A Commentary and Critical Notes (New York, USA: Lane and Scott, 1847), I:59].
    Existe ainda outra maneira de se chegar a um número aproximado de pessoas sobre a Terra por ocasião do casamento de Caim. “Se Abel morreu em o ano 125, e Adão e Eva tiveram filhos antes desta data, mesmo na hipótese de o primeiro filho nascer quando o primitivo casal tinha 65 anos de idade, haveria uma possível família de 130 pessoas da primeira geração de Adão e Eva. E, se estes tiveram filhos, principalmente com a idade de 21 anos, a população do mundo ao fim de 130 anos poderia ter sido 500.000. Portanto, não há mistério nem no casamento, nem na cidade de Caim, nem no seu medo de ser morto por outros homens” [W. C. Taylor, citado em Ebenézer Soares Ferreira, Dificuldades Bíblicas e Outros Estudos (Campos, RJ), 2:28.]
   
Conclusão

Se lermos o relato bíblico, tendo como pano de fundo a maneira oriental de pensar, não poderemos atribuir um número pequeno de habitantes sobre a Terra por ocasião do assassinato de Abel e nem duvidar da veracidade da narrativa.
Todo pesquisador sério, antes de tirar suas conclusões, fará um acurado esforço para desvendar o que está por trás das aparências ao analisar documentos escritos em um contexto deferente do que conhecemos. Assim fazem os paleontólogos, arqueólogos e historiadores de renome.
A Bíblia é um livro fascinante e ao alcance de todos. Suas páginas têm trazido motivação e ânimo para milhões de pessoas ao redor do mundo. Vale à pena descortinar os mistérios que se desdobram perante os nossos olhos à medida que a pesquisamos com seriedade.

Pr. Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral.

domingo, 15 de janeiro de 2012

SÁBADO, UMA PORTA DE ENTRADA, NÃO UM MURO DE SEPARAÇÃO

Introdução

Todo bom adventista encara o repouso sabático como uma bênção. Esse dia corresponde a um oásis no tempo, tão necessário à alma, quanto um copo de água fresca para um viajante sedento do deserto.
Por outro lado, os que não guardam o Sábado encaram a sua observância como uma prática legalista. Alguns evangélicos vêem no Sábado uma barreira posta pelos adventistas contra uma aproximação maior com os irmãos de outras denominações, e até afirmam que Jesus já derrubou esse muro de separação, aplicando equivocadamente Efésios 2:14 à observância do quarto mandamento.
O apóstolo Paulo assevera em relação a Jesus: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade” (Efésios 2:14). O Comentário Bíblico Adventista interpreta: “A imagem pictórica pode ter sido derivada da barreira existente no templo que separava o pátio dos gentios do pátio dos judeus”. “Middle wall of partition” [Eph. 2:14], Seventh-day Adventist Bible Commentary (SDABC), ed. Francis D. Nichol (Washington, DC: Review and Herald Publishing Association, 1957), 6:1009.

O Sábado Como Centro da Lei Divina

A maneira como os judeus encaravam a religião afetou o seu relacionamento com os outros povos. Deus esperava que a piedade e a religião prática de Seu povo fosse um testemunho e uma lição objetiva para os outros. Não somente a observância do Sábado, mas todos os outros aspectos do judaísmo deveriam ser uma porta de entrada para o futuro reino messiânico.
O antigo povo de Deus ganhou um lugar privilegiado entre as nações:
Para Israel, o Sábado tornou-se um teste de obediência e um sinal de lealdade (Êxodo 16:4, 22, 23). Este episódio aconteceu um mês antes da entrega da lei no Sinai. Quando a lei foi proclamada no monte, o Sábado foi posto no próprio centro, pois há 146 palavras em cada lado da afirmação “sétimo dia é o Sábado” (KJV). O Dr. Adam Clarke afirmou que a lei foi pronunciada a princípio no Sinai no dia de Sábado e que o Pentecostes era um memorial desse evento. A lei foi posta no centro da arca; a arca, no centro do lugar santíssimo do santuário, que ficava situado no centro da tribo sacerdotal, a qual estava no interior do acampamento de Israel, e o Senhor colocou Israel no centro do Mundo. Taylor G. Bunch, The Exodus and Advent Movements In Type and Antitype, 13.

A própria posição geográfica dos hebreus denota uma preocupação divina quanto ao papel missionário do povo israelita, mas Israel falhou, não somente quanto à missão, mas principalmente quanto ao seu relacionamento com Deus, o que afetou e mascarou os elementos e a prática da sua religião. Podemos dizer que um dos mais preponderantes desses elementos era a observância do Sábado:
À medida que os judeus se afastavam do Senhor, e falhavam em tornar a justiça de Cristo sua própria pela fé, o Sábado perdeu o seu significado para eles. Satanás estava procurando se exaltar e desviar os homens de Cristo, por isso trabalhou para perverter o Sábado, tendo em vista que este é o sinal do poder de Cristo.
Os líderes judeus realizaram a vontade do Diabo ao circundar o dia de repouso divino com requerimentos opressivos. Nos dias de Cristo, o Sábado havia se tornado tão pervertido que sua observância refletia o caráter de homens egoístas e arbitrários, ao invés do caráter amoroso do Pai celestial.
Os rabis virtualmente representavam a Deus como estabelecendo leis que eram impossíveis para o homem obedecer. Levavam o povo a considerá-Lo como um tirano, e a pensar que a observância do Sábado, como Ele requeria, tornava as pessoas duras de coração e cruéis.
Fazia parte da obra de Cristo esclarecer essas falsas concepções. Embora os rabis O seguissem com hostilidade sem misericórdia, Ele nem sequer parecia se conformar aos seus requerimentos, mas ia em frente guardando o Sábado de acordo com a lei de Deus. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, (Versão em Inglês – Tradução Livre), 283.

O Anti-Semitismo Um Fator de Separação

Depois da destruição de Jerusalém, a animosidade dos romanos contra os judeus aumentou sensivelmente devido a revolta de Bar Kochba no deserto da Judéia. O imperador empreendeu uma cruel perseguição que incluía a proibição da observância do Sábado. O Dr. Samuele Bacchiocchi faz um extenso comentário sobre o assunto em sua tese, “From Sabbath to Sunday”, demonstrando que o anti-semitismo foi uma das fortes razões para o abandono da observância do Sábado pelo mundo cristão.
Adriano (117-138 a.D.) proibiu aos judeus, sob pena de morte, entrar na cidade de Jerusalém, agora chamada de Aelia Capitolina. Depois de massacrar impiedosamente a revolta de Bar Kochba (132-135 a.D.), reconstruiu a cidade de Jerusalém sobre as suas próprias ruínas e na área do antigo templo, erigiu um novo templo em homenagem a Júpiter, uma deidade solar.
As fontes rabínicas normalmente se referem às restrições impostas por Adriano e seu governo, como a era da perseguição – shemad ou a era do edito – gezarah.
Adriano proibiu a observância do Sábado, as festividades, o estudo da Torah e a circuncisão. De uma maneira particular, a observância do Sábado foi a prática mais atacada. Samuele Bacchiocchi, From Sabbath to Sunday.

Os cristãos primitivos, a fim de não serem identificados com os judeus, procuraram se afastar das práticas religiosas que pudessem atrair sobre eles as perseguições engendradas contra aqueles. O abandono da observância do Sábado está ligado ao afastamento da fé, resultado de muitos fatores associados, mas, que têm na antipatia aos judeus, o seu maior motivo.

O Papel dos Adventistas do Sétimo Dia

Os adventistas são conscientes quanto ao chamado de Deus para uma obra reformatória (Isaías 58). Em face disso, existem hoje em nossas fileiras duas categorias: Os que usam essa prerrogativa para atacar outros grupos religiosos (atitude que não reflete a filosofia da Igreja), e os que compreendem melhor o seu papel como reformadores e, assim pregam as doutrinas ensinadas pela Igreja Adventista sobre uma base Cristocêntrica, imitando a abordagem de nosso Senhor Jesus Cristo:
Na obra de ganhar almas são necessários grande tato e sabedoria. O Salvador nunca suprimia a verdade, mas sempre a pronunciava com amor. No Seu contato com outras pessoas, exercia o maior tato, e era sempre bondoso e solícito. Nunca era rude, jamais dizia uma palavra severa desnecessariamente, ou infligia dor sem motivo a uma alma sensível.
Não censurava a fraqueza humana, porém destemerosamente denunciava a hipocrisia, a descrença e a iniquidade, no entanto, havia lágrimas em Sua voz quando repreendia com firmeza.
Nunca tornava a verdade cruel, mas sempre manifestava uma profunda ternura pela humanidade. Todas as pessoas eram preciosas em Sua vista. Portava-Se com dignidade divina, muito embora Se curvasse com a mais terna compaixão e interesse diante de cada membro da família de Deus. Via em todos, almas as quais era prerrogativa de Sua missão, salvar. Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Versão em Inglês – Tradução Livre), 117.

Quando o Sábado é apresentado sob uma perspectiva Cristocêntrica, e não como simples objeto de lei, toda a sua beleza como memorial da Criação e figura tipológica do descanso eterno atraem aos sinceros filhos de Deus para um relacionamento peculiar desfrutado apenas por aqueles que se deleitam no Seu santo dia. Com essa espécie de abordagem ficará mais fácil vê-lo como uma porta de entrada e não como um muro de separação.

Duas Categorias de Cristãos

Assim como no “arraial” adventista existem duas categorias de crentes, também ocorre no mundo evangélico: Os que são intolerantes para com aqueles que pensam de forma diferente, e que assumem uma atitude isolacionista; e a outra categoria, que embora não concorde com todas as posições dos adventistas, procuram compreender o seu ponto de vista.
Talvez a maior razão do mundo evangélico não aceitar a observância do Sábado como praticada por grupos cristãos (como é o caso dos adventistas), seja a má compreensão do relacionamento entre a lei e a graça.
Como pode o adventista do sétimo dia pregar a graça e ainda ser legalista? Qualquer evangélico que conviva com um de nós saberá que uma das doutrinas mais importante da Igreja Adventista do Sétimo Dia é a justificação pela fé. O que nos faz parecer legalistas aos olhos de outros cristãos é o fato de observarmos o quarto mandamento da lei de Deus. Porém todo bom evangélico entende ser uma violação da lei divina se curvar diante de uma imagem de escultura, dizer o nome do Senhor em vão, adorar outros deuses, adulterar, ou desonrar aos pais.

A Função Primordial da Lei Divina

A lei divina tem uma função vetorial, isto é, faz o pecador sentir a necessidade de mudança. Usando a terminologia bíblica, serve de aio ou conduto (Gálatas 3:24). As pessoas só aceitam a Cristo como Senhor e Salvador depois que se reconhecem pecadoras, e o pecado é a violação da lei de Deus (I João 3:4). Uma das grandes provisões do evangelho é a dotação de capacidade para realizar toda a vontade divina. Poderíamos consubstanciar esta afirmação desta maneira: A “dotação de capacidade” corresponde à operação da graça e a “realização da vontade divina”, à observância da lei de Deus por aquele que foi por Ele capacitado (Filipenses 2:13). Mesmo nos dias anteriores à primeira vinda de Cristo a salvação se efetuava assim.
Nos tempos do Velho Testamento o pecado estava ligado à violação dos mandamentos de Deus. Neemias afirma claramente: “... confessando eu os pecados dos filhos de Israel, que temos cometido contra ti; sim, eu e a casa de meu pai pecamos; na verdade temos procedido perversamente contra ti, e não temos guardado os mandamentos, nem os estatutos, nem os juízos, que ordenaste a teu servo Moisés...” (Neemias 1:6, 7). Jeremias 44:23 liga o pecado com a desobediência à lei de Deus. Uma afirmação nítida do que representa o pecado pode ser encontrada no livro de Levítico: “Se alguém pecar, fazendo qualquer de todas as coisas que o Senhor ordenou que não se fizessem...” (Lev. 5:17).
J. R. Spangler, And Remmber, Jesus is Coming Soon (Silver Spring, MD: Pacific Press Publishing Association, 1977), 35.

“O grande ponto em questão não é a lei ou a graça, mas ao invés disso, o enfoque real é a lei e a graça. A graça de Deus está baseada em Sua lei, a qual constitui o fundamento sobre o qual Sua graça é construída”. Spangler, And Remmber, 37.
Na arca da aliança, em cujo interior permaneciam as tábuas da lei, havia uma tampa chamada propiciatório, uma figura tipológica de Jesus (I João 2:2). A razão pela qual essa peça ficava sobre a lei era uma indicação aos filhos de Israel de que o quebrantamento da lei divina demandava a propiciação com sangue (Hebreus 9:22).

Conclusão

O sábado não é um muro de separação para os que baseiam a sua fé na Palavra de Deus. Estes concluirão que ele é o centro da lei moral dada ao homem através do povo eleito. A antipatia pelo sábado passou primeiro por um sentimento de repulsa aos judeus que o encaravam simplesmente como objeto de lei.
Os adventistas podem contribuir para revelar o verdadeiro caráter do sábado como exemplificado na vida de Jesus ou intensificar o sentimento de discórdia com os irmãos evangélicos, dependendo da maneira como experimentamos e preceituamos o sábado. E os evangélicos também têm uma grande responsabilidade em relação a essa questão, tendo em vista a liberdade que desfrutam para pesquisar livremente a Bíblia.
O sábado é parte integrante da Lei de Deus. Assim como os outros mandamentos, o seu papel não tem caráter salvífico. Jesus pagou o preço pelos nossos pecados e tornou possível a todo crente obedecer a Sua lei de amor. No coração dessa lei fincou o marco de Seu poder criador, um lembrete aos seres humanos que se ocupam de tantas coisas e se esquecem de seu Deus. O Sábado só será um muro de separação para os que são esquecidos, porém para os que estão lembrados, será uma porta de entrada!

Pastor Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral.

OS AMALEQUITAS MODERNOS

Introdução

O nome ou título de uma corporação, normalmente exprime a sua filosofia, os seus conceitos, a sua cosmovisão e até mesmo, o espírito com que trata as diversas questões com as quais está envolvida.
O título “Adventista do Sétimo Dia” reflete a nossa crença peculiar na segunda vinda corpórea e gloriosa de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e o nosso conceito criacionista. Há um Deus pessoal que operou a criação do mundo em sete dias literais, incluindo um de repouso sagrado.
A mesma profecia que delimitava o período de oportunidade para o antigo povo eleito, os israelitas, também anunciava o momento especial na História quando deveria surgir na terra o último seguimento do povo escolhido de Deus. Trata-se da profecia de Daniel 8:14.
Assim como os israelitas estavam abrigados sob o solícito cuidado divino por ser o povo escolhido do Senhor, os adventistas do sétimo dia também estão sob o seu apreço de uma forma particular.

Os Amalequitas

Os amalequitas derivam o seu nome de Amaleque, filho de Elifaz com a sua concubina Timna. Elifaz, por sua vez, era filho de Esaú (Gen. 36:12, 16) , portanto, parentes dos israelitas. Representavam para o povo de Israel o que os atuais dissidentes são para os adventistas do sétimo dia.
Atacaram o povo de Israel no momento mais difícil quando este estava fugindo do Egito. E derrubaram os fracos que iam à retaguarda quando todos estavam cansados e afadigados. Fizeram tal coisa porque “não tiveram temor de Deus” (Deut. 25:17-19).
De acordo com Ellen White, “os amalequitas não desconheciam o caráter de Deus, nem Sua soberania; mas em vez de O temerem, puseram-se a desafiar o Seu poder.” Na verdade, os amalequitas odiavam a Deus e desconfiavam dEle: “Foi para manifestar seu ódio e desconfiança para com Deus que procuraram destruir Seu povo.” Muito embora fossem grandes pecadores, “a misericórdia divina ainda os chamava ao arrependimento; quando, porém, os homens de Amaleque caíram sobre as cansadas e indefesas fileiras de Israel, selaram a sorte da sua nação.” Toda forma de opressão praticada contra os sinceros filhos de Deus é notada pelo Céu.

Adventistas Amalequitas

Assim como os amalequitas estavam próximos aos israelitas por laços de parentesco, da mesma forma os dissidentes compartilham crenças comuns com os adventistas do sétimo dia. E, como acontecia no passado, estamos sempre sendo atacados pelos grupos dissidentes.
Esses grupos gostam de ser identificados por títulos ou nomes que, de um lado os vincula a nós: “Adventistas”, e por outro lado, qualquer expressão bíblica ou secular que expresse a ênfase de sua filosofia. Na Internet, eles são encontrados em sites de busca com a digitação de adventistas ponto qualquer coisa. Ainda não apareceu nenhum grupo que tenha assumido o título de “adventistasamalequitas.com”. É claro que neste caso, estariam assumindo publicamente a sua postura de hostilidade contra o povo escolhido. Porém, muito embora não utilizem títulos como este, os ataques frequentes aos líderes da igreja empregando expressões ofensivas, em si próprias já fornecem evidência suficiente para demonstrar qual o espírito que os move.
Alguns se esquecem que ao se imiscuírem em assuntos solenes, principalmente referentes à divindade apoucando o Seu caráter sagrado, estão como Amaleque, estendendo a mão “contra o trono de Jeová.”

Amalequitas Versus Israelitas

Moisés mandou que Josué separasse alguns homens para lutarem contra os amalequitas em defesa dos israelitas (Êxo. 17:8-9). Não pode ser diferente hoje. Deus tem homens no arraial adventista que foram dispostos para a árdua tarefa de defender a verdade do advento. Estes são objetos especiais dos ataques constantes dos dissidentes. Em relação ao antigo povo escolhido, a despeito dos ferrenhos combates, o povo de Deus saía vitorioso.
Quando os israelitas semeavam seus campos com sucesso esperando uma colheita abundante para alimentar a sua família, os amalequitas apareciam para destruir aquilo que havia sido semeado (Juízes 6:3-4). O povo de Deus clamava ao Senhor e Este os livrava (I Sam. 14:48).
Pelo fato de Amaleque hostilizar o povo escolhido, o Senhor jurou guerrear contra ele “de geração a geração” (Êxo. 17:16). Por essa razão, a memória dos amalequitas seria apagada (Êxo. 17:14; Deut. 25:19;).
Atacar ao povo de Deus é algo bem típico dos que habitam no vale (Números 14:25). Quanto aos líderes do Senhor, esses sobem ao monte para defender a causa da verdade (Êxo. 17:8-9).
Os queneus habitavam com os amalequitas, mas eram simpáticos aos israelitas. Razão pela qual foram advertidos a se retirarem, a fim de não serem destruídos juntamente com eles: “Depois disse aos queneus: ‘Retirem-se, saiam do meio dos amalequitas para que eu não os destrua junto com eles; pois vocês foram bondosos com os israelitas, quando eles estavam vindo do Egito’” (I Sam. 15:6).
Não podemos negar que existam erros em nossas fileiras que precisam ser corrigidos. Contudo, Jesus indicou o caminho para fazê-lo (Mat. 18). Os supostos pecados dos líderes, sejam eles quais forem, não devem ser publicados, mas tratados pessoalmente e com amor. O falecido pastor J. R. Spangler, em seu artigo “Adventist Amalekites” revela ter escrito, quando jovem, uma carta áspera sobre as faltas dos líderes da igreja ao pastor F. D. Nichol. Contudo, a resposta branda aplacou completamente a sua ira. Afirma que não estava errado em suas considerações, mas sim na atitude e no espírito com que tratava o assunto.
Em relação aos adventistas do sétimo dia, Ellen White declara: “A igreja, débil e defeituosa, precisando ser repreendida, advertida e aconselhada, é o único objeto na Terra ao qual Cristo confere Sua suprema consideração.”
A atitude crítica não conduz à realização pessoal e nem edifica a obra de Deus. As pessoas ocupadas na tarefa de criticar os líderes da igreja estão deixando de ganhar as preciosas almas por quem Cristo morreu. Diz o pastor Spangler: “Cada dólar desviado da verdadeira missão da igreja impede o cumprimento da comissão dada por Deus.”

Conclusão

Aqueles que se alegram em cavar os pecados secretos dos irmãos deveriam estudar a Palavra de Deus para descortinar os seus maravilhosos segredos. A divulgação dos supostos pecados de líderes da igreja não contribui em nada para o seu crescimento. Como afirma o pastor Spangler: “Ninguém pode realmente fazer a oração de Cristo em João 17 e ao mesmo tempo depreciar a igreja!”
Estamos vivendo próximos à grande crise dos séculos. Há necessidade de apressarmos o trabalho de divulgação das verdades bíblicas para o nosso tempo. É difícil esperar qualquer mudança daqueles que vivem dentro da cidadela dos “adventistas amalequitas”, mas ainda existe esperança para os queneus. Para esses, dirijo o apelo de Apocalipse 18:4: “Sai dela povo meu”.

Pr. Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral

BIBLIGRAFIA

Todas as referências bíblicas citadas neste artigo são da Nova Versão Internacional, Editora Vida (São Paulo, SP, 2000).
Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Santo André , SP: Casa Publicadora Brasileira, 1976), 305-306.
J. R. Spangler, “Adventist Amalekites”, Ministry, (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association), Outubro de 1983, págs. 24-25.
Ellen G. White, Testemunhos para Ministros (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1979), 49, 25.

sábado, 14 de janeiro de 2012

O USO DE APARATO DE VISTUÁRIO E PINTURAS

Introdução

O apóstolo Pedro demonstra preocupação com o testemunho revelado pela aparência exterior das mulheres cristãs ao escrever: “ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário;  seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus” (1Pe 3:2-4).
A expressão, “honesto comportamento cheio de temor” não deixa dúvida quanto à preocupação com o testemunho revelado pelo vestuário. Essa mesma preocupação também é revelada por Paulo: “Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas)” (1Tm 2:9-10).
Paulo ainda acrescenta o traje decente e modesto, cheio de boas obras e sem os atavios de cabelo, ouro, pérolas e vestimentas caras. Os que receberam evangelho de Cristo tiveram as suas prioridades modificadas. Não se deixam conduzir pelos apelos do mundo secular, mas vivem de acordo com os preceitos da Palavra e guiados pelo Espírito.
Esse é também o apelo de João: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2:15-17).
Aquilo do que revestimos o nosso corpo tem importância no reino espiritual. Paulo deixa claro essa premissa ao escrever: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:1-2).
Tanto João quanto Paulo advertem sobre os apelos da carne ou do mundo, ou ainda, deste “século”, ou seja, desta ordem de coisas sob a qual vivemos. O narcisismo nasceu com Lúcifer (Ez 28:13, 17), um ser perfeito que deixou de contemplar a beleza da santidade divina para apreciar a sua própria beleza.

A Reforma na Família de Jacó

Quando Jacó retornava da terra de suas peregrinações, onde sua família esteve em contato com algumas formas de paganismo, Deus exigiu dele uma reforma: “Disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita ali; faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugias da presença de Esaú, teu irmão.  Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que há no vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas vestes; levantemo-nos e subamos a Betel. Farei ali um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia e me acompanhou no caminho por onde andei. Então, deram a Jacó todos os deuses estrangeiros que tinham em mãos e as argolas que lhes pendiam das orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém” (Gn 35:1-4).
O Comentário Bíblico Adventista faz a seguinte abordagem sobre a mudança das vestes: “A lavagem exterior do corpo e a troca de suas vestes por outras simbolizava a purificação moral e espiritual da mente e do coração (ver Isaías 64:6; 61:10). O serviço de Deus não deve ser realizado sem a devida preparação” [“Put away the strange gods” [Gn 35:2], Seventh-day Adventist Bible Commentary, ed. Francis D. Nichol (Washington, DC: Review and Herald Publishing Association, 1953), 1:14.].

A Reforma no Deserto

Durante a peregrinação no deserto e depois da idolatria do bezerro de ouro, Deus ficou desapontado com o povo. Ele solicitou que fizessem algo parecido com o que ocorreu com a família de Jacó: “Disse o SENHOR a Moisés: Vai, sobe daqui, tu e o povo que tiraste da terra do Egito, para a terra a respeito da qual jurei a Abraão, a Isaque e a Jacó, dizendo: à tua descendência a darei. Enviarei o Anjo adiante de ti; lançarei fora os cananeus, os amorreus, os heteus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Sobe para uma terra que mana leite e mel; eu não subirei no meio de ti, porque és povo de dura cerviz, para que te não consuma eu no caminho. Ouvindo o povo estas más notícias, pôs-se a prantear, e nenhum deles vestiu seus atavios. Porquanto o SENHOR tinha dito a Moisés: Dize aos filhos de Israel: És povo de dura cerviz; se por um momento eu subir no meio de ti, te consumirei; tira, pois, de ti os atavios, para que eu saiba o que te hei de fazer. Então, os filhos de Israel tiraram de si os seus atavios desde o monte Horebe em diante” (Êx 33:1-6).
O Senhor esperava de Seu povo uma consagração total, por isso, eles deveriam deixar a futilidade das ocupações com peças de vestuário e adorno pessoal, a fim de buscá-Lo de coração.
Há diversos textos que parecem indicar o uso de jóias pelo povo hebreu, especialmente no Antigo Testamento (Gn 24:53; Êx 3:22; Pr 25:12; Is 3:21; 61:10; etc.). Mas, isso não significa que o seu uso fosse aprovado por Deus, o que se pode depreender dos dois exemplos acima. Ao solicitar reavivamento e reforma, Ele exigia que se desfizessem desses aparatos. Da mesma maneira, Ele também não instituiu a poligamia, embora essa fosse uma prática comum entre o povo eleito.

O Vestuário e a Missão Adventista

O Novo Testamento corrige essas práticas solicitando que o crente viva no Espírito e não na carne (Rm 8:4). Ellen White comenta: “No professo mundo cristão o que é gasto em extravagante ostentação, em jóias e ornamentos, daria para suprir as necessidades de todos os famintos e vestir todos os nus em nossas cidades; e ainda assim esses professos seguidores do manso e humilde Jesus não precisariam privar-se do necessário alimento nem do vestuário confortável... Vosso dinheiro significa salvação de alguém. Não seja ele pois gasto em jóias, ouro ou pedras preciosas... A abnegação no vestir faz parte de nosso dever cristão. Trajar-se com simplicidade, e abster-se de ostentação de jóias e ornamentos de toda espécie, está em harmonia com nossa fé” [Ellen G. White, Beneficência Social (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 216, 267, 1CD-Rom; Idem, Evangelismo, 269.]
Esses princípios também devem ser aplicados à pintura. A fé adventista requer simplicidade, sem renunciar a elegância e o bom gosto. Se estamos de fato nos preparando para o Céu, devemos despender nossas energias em viver e pregar o evangelho.
Alguns argumentam que precisamos nos aproximar das pessoas com algo em comum, a fim de alcançá-las para a verdade. Nessa tentativa, quase se convertem aos modos do mundo. Mas, são as pessoas do mundo que precisam ser transformadas pelo evangelho, pois “é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16).

Conclusão

O grande problema da Igreja hoje é a ausência de consagração. Precisamos de um reavivamento e uma reforma contundente no arraial adventista. Não devemos solucionar esses problemas com censuras, disciplinas eclesiásticas e enfrentamentos. A igreja precisa ser conscientizada de sua necessidade imperiosa, encher-se do Espírito Santo. Uma boa sugestão seria empreender o voto de Jonathan Edwards feito no século 18:
“Hoje, solenemente, renovei o meu concerto pessoal com Deus!
Permaneci perante Ele e me entreguei inteiramente, tudo o que sou e tenho!
Assim, em coisa alguma sou meu, não mais me compete lançar mão sobre a minha vontade, entendimento e afeições.
Não me reservo nenhum direito sobre meu corpo, bem como quaisquer de seus órgãos ou sentidos, sejam eles os olhos, língua, mãos, pés, olfato, gosto, etc. Dei-me in totum e nada guardei para mim mesmo.
Aproximei-me do meu Deus ao despertar da alvorada e afirmei-Lhe que me entregara completamente a Deus, por amor de Jesus, que minha decisão possa ser aceita e Ele me considere todo Seu, usando-me como possessão Sua.
Na alegria ou na dor... na ventura ou no sofrimento... em qualquer encruzilhada da vida, em tudo seja cumprido em mim e por mim a Sua divina vontade [Jonathan Edwards, A Verdadeira Obra do Espírito (São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edição Vida Nova, 1995).]

Pr. Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral

OS SÁBADOS DE COLOSSENSES 2:16-17

Introdução

        Quando lido descuidadamente, o texto pode parecer estar dizendo aquilo que, na realidade não está. Leiamos, pois o versículo: “Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são sombras das coisas vindouras; mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:16-17).
      Sombras ou tipos foram muito empregados no Velho Testamento para indicar alguma singularidade do ministério de Jesus (I Coríntios 10:1-4).
Comidas, bebidas, dias de festa, lua nova e sábados (aqui denominados sombras das coisas vindouras, são componentes dos ritos e das ofertas do cerimonial judaico, portanto, compreendem a lei cerimonial).

A Distinção entre os Sábados de Colossenses 2:16-17 e o Sábado Semanal 

       Os sábados aqui referidos são as “santas convocações”, ou ocasiões especiais em datas pré-determinadas, como: a Páscoa, as Primícias, o Pentecostes, o Yom Kipur (Dia da Expiação). Estas solenidades eram intituladas “sábados”, pois, nesses dias nenhum trabalho servil fareis (Levítico 23:3, 7, 8, etc.), ou seja, eram feriados que podiam cair em qualquer dia da semana, mas,  ainda assim, chamados de sábados pelo caráter solene do que se realizava neles. Contudo eram de natureza diferente do Sábado semanal:
1º O Sábado semanal foi estabelecido por Deus na Criação, sendo, portanto, uma lembrança de coisas passadas (Gênesis 2:1-3). Deus começa a promulgação do quarto mandamento com a expressão, “lembra-te”. Uma lembrança do passado não corresponde a uma tipologia para o futuro.
2º Os sábados cerimoniais começaram a ser observados após a entrega da lei cerimonial a Moisés no Monte Sinai, e cada um deles apontava para um aspecto do ministério salvífico de Cristo (I Coríntios 5:7; 15:20, etc.)
3º O próprio Deus os apresenta como sendo de caráter distinto: “Estas são as festividades indicadas do SENHOR, a qual celebrareis como períodos de santa convocação, para apresentar ao SENHOR ofertas queimadas – holocausto e ofertas de grãos, sacrifícios e libações, cada uma em seu próprio dia – separados dos sábados do SENHOR , e separados das vossas ofertas, e das vossas ofertas votivas, e de todas as vossas ofertas voluntárias, as quais entregais ao SENHOR” (Levítico 23:37, 38 - New Revised Standard Version [tradução livre]). 
      Depois de apresentar as festividades solenes e suas injunções, suas ofertas e prescrições, Moisés foi orientado a dizer ao povo que aqueles eram períodos especiais nos quais o povo deveria cessar o trabalho cotidiano e celebrar ao Senhor através daqueles sábados e suas ofertas específicas. Porém, eles seriam separados, de natureza diferente do Sábado semanal. Mesmo as ofertas oferecidas nesses períodos eram de natureza distinta das ofertas costumeiras.
      Observemos o quadro sinótico abaixo com a distinção entre a lei moral e a cerimonial:

DISTINÇÃO ENTRE A LEI MORAL E A LEI CERIMONIAL

Promulgada pelo Próprio Deus (Êx. 20:1, 22)    Promulgada por Moisés (Êx. 24:3)
Escrita por Deus (Êx. 31:18; 32:16)                    Escrita por Moisés (Êx. 24:4; Deut. 31:9)
Escrita sobre pedras (Êx. 31:18)                          Escrita em um livro (Êx. 24:4, 7; Deut. 31:24)
Dada por Deus, o Escritor, a Moisés (Êx. 31:18)    Dada por Moisés, o escritor, aos levitas (Deut. 31:25, 26)
Depositada na arca por Moisés (Deut. 10:5)    Depositada pelos levitas ao lado da arca (Deut. 31:26)
Lida com preceitos morais (Êx. 20:3-17)    Lida com questões cerimoniais e rituais (Num. 19; Êx. 29, etc.)
Revela o pecado (Romanos 7:7)                Prescreve ofertas pelo pecado (Lev. 4:3; etc.)
A quebra desta lei é pecado (I João 3:4)    A sua quebra não constitui pecado, pois, foi abolida (Ef. 2:15)
Deve ser inteiramente observada (Tiago 2:19)    Os apóstolos não ordenaram obediência a esta lei (Atos 15:24)
Seremos julgados por esta lei (Tiago 2:12)    Não seremos julgados por esta lei
(Col. 2:16)
O cristão que observa esta lei é bem aventurado no que faz (Tiago 1:25)    O cristão que observa esta lei não é abençoado (Gal. 5:1-6)
É a perfeita lei da liberdade (Tiago 1:25; 2:12)    Quem observa esta lei perde a sua liberdade (Gal. 5:1, 3)
É estabelecida pela fé em Cristo (Romanos 3:31)    Foi abolida por Cristo (Ef. 2:15)
Cristo magnificou e honrou esta lei (Is. 42:21)    Cancelou os escritos de ordenanças que eram contra nós (Col. 2:14)
A lei moral é espiritual (Romanos 7:7, 14)    A lei cerimonial era de mandamento carnal (Heb. 7:16)

      Deus havia estipulado, através de Moisés, a vigência de sete descansos solenes, sete sábados nos quais o povo de Israel deveria festejar e oferecer suas oferendas. Estas festas, ou sábados, eram distintos do Sábado semanal. Enquanto o primeiro grupo de sábados eram cerimônias transitórias, o Sábado semanal deveria ser eterno pelo seu caráter não passageiro. Isto é o que veremos a seguir:

O Sábado do Sétimo Dia (Parte do Decálogo – Lei Moral)

Estabelecido na criação do mundo (Ge. 2:1–3)
Memorial de um evento no começo do tempo, antes da existência do povo judeu (Gen. 1:26, 27; 2:7; Mat. 19:4)
Objetiva atrair sempre a mente do homem para o passado, à Criação (Êx. 20:8–11 )
Deus repousou no Sábado do sétimo dia e o abençoou e santificou de forma específica (Gen. 2:2,3)
Comemora a existência de um mundo que havia saído perfeito das mãos do Criador (Gen. 1:31)
Está ligado ao ciclo semanal, sendo sempre o mesmo dia da semana (At. 13:42, 44)
Pode ser observado em qualquer parte do mundo, porque o ciclo semanal opera livremente em qualquer calendário.
É observado toda semana (Êx. 31:17; Ez. 20:20)
Foi feito por causa do homem (Marcos 2:27)
Permanecerá além deste mundo e ordem de coisas (Is. 66:22-23)


Os Sábados Anuais (Partes da Lei Cerimonial)

Estabelecidos no Sinai, 2.500 anos depois da Criação (Lev. 23)
Memoriais de eventos na história corrente dos judeus. Por exemplo, a Festa dos Tabernáculos (Lev. 23:43)
Objetivavam atrair sempre a mente do homem para o futuro, até a cruz (Col. 2:17; I Cor. 5:7; 15:20)
Deus não descansou nestes dias, nem os separou, lhes atribuindo bênçãos ou santificação distinta.
Comemoravam e prefiguravam eventos que tomariam lugar em consequência da entrada do pecado neste mundo (Gen. 4:3, 4; Rom. 5:12, 13)
Estão ligados ao calendário judaico, sendo celebrados sempre em dias da semana diferentes (Lev. 23:2, 4, 7, 44, etc.)
Podiam ser conhecidos e guardados apenas onde o calendário judeu existia.
Eram observados apenas uma vez por ano (Êx. 13:10)
Constituíam partes dos ritos cerimoniais que eram contra nós (Col. 2:14)
Foram abolidos, cravados na cruz, através do sacrifício de Cristo (Col. 2:14)


Observemos o quadro abaixo exibindo as festividades cerimoniais e o seu cumprimento no Novo Testamento:

1.O décimo quarto dia do primeiro mês judaico [Nisã, ou Abib] também conhecido como Sábado Pascal. Levítico 23: 5 (PÁSCOA)
2. O décimo quinto dia e sete dias depois de Nisã. Levítico 23:6 (PÃES ASMOS)
3. O décimo sexto dia de Nisã.    Levítico 23:9-14 (PRIMÍCIAS)
4. O quinquagésimo dia “desde o dia imediato ao Sábado” (quando traziam o molho da oferta movida) era o Pentecostes (no mês de Sivã) Levítico 23: 15–21 (PENTECOSTES)
5. O primeiro dia do sétimo mês (no mês de Tishri) era a Festa das Trombetas  Levítico 23: 23–25 (TROMBETAS)
6. O décimo dia do mês de Tishri, conhecido como Dia da Expiação (ou Yom Kipur) Levítico 23: 26–32 (EXPIAÇÃO)
7. O décimo quinto e o vigésimo segundo dia do mês de Tishri, eram o primeiro e o último dias da Festa dos Tabernáculos (também conhecida como “Festa das Cabanas”) Levítico 23: 33–36 (CABANAS OU TABERNÁCULOS)

Cumprimento no Novo Testamento

1. Cristo foi sacrificado como Cordeiro Pascal (1Cor. 5:7)
2. Jesus é o Pão oferecido por nós (Mat. 26:26)
3. Jesus ressuscitou como a Primícia dos que dormem (1Cor. 15:20)
4. Inaugurou o santuário celeste e enviou o Espírito (At. 2:1; Heb. 8:1-3; 9:1-3). Assim como o santuário terrestre foi inaugurado com o óleo sagrado, o celestial o foi com o Espírito Santo (Êx. 30:22-33)
5. As trombetas anunciava o povo a chegada do Dia da Expiação (Yom Kipur), o mesmo deveria acontecer no antítipo, antes do 2º advento (Ap. 14:6-12)
6. O juízo pré-advento ou investigativo está em curso desde 1844, ano em que culminou a profecia de Daniel 8:14; 9:20-27. Quando essa atividade terminar, Cristo voltará para resgatar os escolhidos.
7. Essa festa prefigurava o milênio. Depois do retorno de Jesus, os salvos passarão 1000 anos com Ele no Céu (João 5:28-28; 1Tes. 4:16-17; Ap. 20:1-10)


      Notemos que Moisés afirma em Levítico 23:37-38 que estas solenidades ou sábados (rituais ou cerimoniais) são “além dos sábados do SENHOR” e das ofertas costumeiras. Eles eram tipológicos ou prefigurativos. Portanto, de caráter diferente do sábado semanal.


                                                                             Conclusão

      Uma vez que Cristo já havia vindo e cumprido a Sua missão, os crentes não precisavam mais (como não precisam) observar aqueles sábados cerimoniais e nem participar dos alimentos a eles atinentes. Todos eram sombras, isto é, tipos da Realidade. A sombra encontrou o corpo ao meio dia do relógio profético: “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gal. 4:4). A cruz foi a consumação da obra expiatória de Cristo e em Sua atividade no santuário celestial, Ele aplica os méritos de Seu próprio sangue na vida dos remidos.
      Para os que vivem nos tempos do Novo Testamento é mais fácil contemplar o quadro geral da obra do Messias. Porém, os “crentes” do Antigo Testamento podiam enxergar a obra salvífica de Cristo apenas em figura tipológica. Os sábados cerimoniais, com todas as suas prescrições, constituíam recursos visuais que eram verdadeiras profecias didáticas apontando algum aspecto da obra salvífica de Cristo ainda no futuro.
      O sábado semanal, no entanto, foi colocado no coração do decálogo como uma eterna lembrança do ato criador e redentor do Deus de amor. Ele é uma marca com a qual Deus sela os Seus filhos fiéis em tempo de grande apostasia. Os judeus dos dias de Jesus conseguiam encará-lo apenas como objeto de lei, mas o Salvador demonstrou como ele deve ser observado, com os olhos voltados para cima, e os braços estendidos para os lados.

Pr. Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A BÍBLIA E OS PENTECOSTAIS HOJE



Introdução

            Existem hoje duas grandes correntes no mundo evangélico em relação à maneira de encarar a Revelação Bíblica. Neste trabalho, não vamos analisar os protestantes fundamentalistas e a inerrância, vamos nos concentrar na corrente evangélica que mais cresce no mundo, o pentecostalismo, hoje com cerca de meio bilhão de aderentes.
Como adventistas, sabemos que os pentecostais exercerão um papel fundamental no desfecho do grande conflito e que a credibilidade da Palavra de Deus vem sendo sutilmente ameaçada por aqueles que deveriam defendê-la. Analisar a maneira como os pentecostais encaram a Bíblia é extremamente importante para se compreender o seu comportamento.
            A Revista Veja em seu número Especial do Milênio, coloca o Pentecostalismo como um dos 100 principais eventos do milênio. Data o início do fenômeno em 1901.[i] Nessa ocasião Charles Fox Parham começava a ensinar na escola bíblica de Houston, Texas, onde estudou o pregador negro William Joseph Seymour, que se tornaria o pai do Pentecostalismo moderno através dos cultos experienciais da Rua Azusa em Los Angeles no ano de 1906. Porém, o que mais me chamou a atenção na reportagem da revista foi a afirmação do articulista que exprime uma realidade fundamental em relação ao pentecostalismo, ou seja, ele “é uma religião do coração. Sendo a experiência pessoal de Deus tão fundamental quanto a doutrina, trata-se de fé adaptável...”.[ii]
            Fundamentalmente, as religiões pentecostais se atêm à experiência em detrimento da doutrina bíblia. Não é tão importante para o crente pentecostal aquilo que está escrito, mas as impressões interiores, ou evidencias da voz do Espírito no coração, mesmo que essas impressões estejam em direta contradição ao que está escrito.
            A maneira como encaram a Bíblia é o reflexo da crise pela qual a Revelação passou nos séculos XIX e XX, mas com raízes nos séculos XVII e XVIII.

Definição


            A expressão “Revelação” significa: expor, abrir, manifestar, pôr à vista, descobrir, revelar. Sua origem etimológica é o Latim. A palavra se origina de duas outras: “Velo”, que significa cobrir, pôr um véu; e “re”, afastar. Portanto, “Revelação”, literalmente seria “afastar o véu” (I Coríntios 2:9, 10; I Samuel 9:9; Deuteronômio 13:1). A “Revelação”, por tanto, é um dom divino, através do qual Deus se manifesta ao homem. Um conhecimento que vem de fora e traz consecuções que não podem ser alcançadas puramente pela razão ou intuído pelo homem sem o auxílio da divindade.
            O Salmo 19, expressa as duas formas básicas através das quais, Deus se comunica com o homem: A Revelação Geral (Sal. 19:1-6) e a Revelação Especial (Sal. 19: 7-13). A Revelação Geral é a manifestação das obras de Deus através da natureza, ou seja, o homem pode ter algum conhecimento de Deus pela contemplação das obras criadas: O céu, as estrelas, o mar, o desabrochar de uma flor, o nascimento de uma criança, etc.
            Porém, o Seu plano particular para salvar o homem e a Sua intervenção nos negócios deste mundo só podem ser conhecidos e compreendidos pela Revelação Especial, ou seja, pela Palavra de Deus comunicada ao homem através das Sagradas Escrituras.

O Testemunho da Própria Bíblia


            A Bíblia, portanto, tem conteúdo objetivo, uma mensagem dirigida aos homens com o fim de apresentá-los o plano de Deus. Constitui a Sua vontade expressa em palavras humanas, pois é dirigida ao homem.
            No Velho Testamento, 130 vezes ocorre a expressão: “Veio a mim a palavra do Senhor”; 359 vezes, “Assim diz o Senhor” e 3808 vezes, expressões sinônimas ou paralelas: “Diz o Senhor”; “veio a mim a palavra do Senhor”; “veio a mim a palavra do Senhor, dizendo”.

A Crise da Revelação Através dos Séculos


            No século XIII, os escolásticos, na sua maioria monges dominicanos, se ocupavam com três questões básicas: a existência, a essência e os atributos de Deus. O principal e mais famoso de todos foi Tomás de Aquino. Através de seus estudos chegaram à conclusão de que Deus pode ser conhecido pela observação da natureza, pois a razão humana é competente para compreendê-lO. Essa ficou conhecida como teologia natural e abriu as portas para o racionalismo.
            Tanto Lutero quanto Calvino esposavam a idéia de que a razão pode chegar a algum conhecimento de Deus, porém este conhecimento é sempre incompleto e inadequado. Lutero fez a seguinte declaração: “Deus em sua própria natureza e majestade deve ser deixado de lado; neste aspecto, nada temos haver com Ele... [nos relacionamos com Ele] como se apresenta vestido e revelado em Sua Palavra...”[iii]
            Lutero também enfatizou a sola scriptura (as Escrituras somente) e a tota scriptura (toda a Escritura), ou seja, somente as Escrituras constituem a regra de fé e prática para os cristãos e toda ela deve ser normativa, muito embora ele tenha enfrentado dificuldades para aceitar algumas porções da Palavra de Deus, como foi o caso da Epístola de Tiago.
            No final do século XVII e início do XVIII, o mundo entrou na era da razão. Os deístas propunham que a religião verdadeira está baseada na razão. Para eles a razão somente é competente no reino da verdade. Enfatizavam a transcendência absoluta de Deus, criam que a natureza e a razão eram as autoridades supremas, mas que a Bíblia não acrescenta nada que não possa ser compreendido pela razão. Rejeitavam, por tanto, a Revelação Especial. Sua atitude era uma espécie de retorno ao Escolasticismo, mas com uma diferença básica, eliminaram completamente a necessidade da Revelação Especial. 
“O surgimento do Iluminismo, no século 18, levou os pensadores ocidentais a relacionar a religião, em suas mais diversas manifestações, com ignorância”.[iv] Para os racionalistas o mundo havia alcançado a sua maturidade e a razão era o meio por excelência de adquirir conhecimento e se transformar no próprio “instrumento de desenvolvimento”.[v]
“Com Immanuel Kant (1724-1804), o Iluminismo atingiu o seu auge. ‘O Iluminismo é a emergência do homem de sua imaturidade. É o homem aprendendo a pensar por si mesmo, sem nenhuma dependência de autoridade exterior, Bíblia, Igreja ou Estado’”.[vi]
Mas Kant golpeou mortalmente o Deísmo, pois ensinava que “a razão pura não pode encontrar a Deus. Este é encontrado apenas pelas demandas práticas da vida moral”, ou seja, enfatizou a voz da consciência, as demandas éticas para a descoberta da verdade (que não pode ser encontrada pela razão pura). No entanto, golpeou também a ortodoxia protestante, invalidando qualquer sorte de comunicação vinda de Deus (a verdade também não é descoberta pela Revelação).[vii]
“No dia 10 de agosto de 1793, uma multidão se reuniu na Praça da Bastilha, em Paris, para a primeira festa em homenagem à nova deusa ocidental – a Razão -, aclamada então pela cultura ocidental como instrumento de libertação. No centro da praça foi erguida uma estátua colossal da deusa”.[viii] A renúncia do bispo de Paris despertou um forte sentimento anticlerical que já vinha se desenvolvendo, alguns membros da Comuna decidiram prestar homenagem à deusa da Razão num lugar que representasse a religião, “a catedral de Notre-Dame. Como parte da cerimônia, a porta do templo se abriu, dando passagem a uma figura feminina, com vestido branco e manto azul. Em trajes deslumbrantes, a atriz Thérèse Angelique Aubry representava a deusa Razão”.[ix] Essa foi a forma zombeteira de espezinhar os valores religiosos e colocar em relevo aquilo que agora era considerado mais importante e acariciado pelo homem. E para isso, a figura de uma mulher (representando a razão) no altar de uma igreja significava o ápice do movimento.
Friedrich Schleiermacher (1768-1834). Teólogo alemão foi considerado o pai da Teologia Liberal. Sua intenção era reabilitar a religião nos círculos intelectuais, tendo em vista que o racionalismo o deixara desgostoso e a alternativa de Kant era insatisfatória. “Procurou a essência da religião em geral e do cristianismo em particular na experiência. A religião está baseada em sentimento intuitivo, não em uma revelação objetiva ou em dogma. O elemento subjetivo tornou-se dominante: a revelação emerge de dentro”.[x]
Para Schleiermacher, os debates sobre as provas da existência de Deus, a autoridade das Escrituras ou sobre milagres, ficam fora dos limites da religião, pois o coração desta é o sentimento (Gefuhl), por tanto, a religião está baseada em sentimentos e na intuição. É o sentimento de absoluta dependência que dá lugar à idéia de Deus. De acordo com Schleiermacher, todas as religiões “repousam nesta mesma base experiencial e podem, no mesmo sentido, reivindicar revelação”
O cerne de sua formulação teológica é que a Revelação não tem conteúdo objetivo comunicado por Deus, mas é uma experiência interior. Dessa forma, a religião é independente da filosofia, da ciência, da razão e da metafísica. Enfatizava a imanência divina, por isso anulava a necessidade de Revelação ou de profetas, pois o homem, para ele, é uma extensão de Deus e não está separado Dele.
Georg Hegel (1790-1831). Foi contemporâneo de Schleiermacher. No nível filosófico identifica a Revelação com a experiência religiosa encontrada em todas as religiões. Deus pode ser encontrado sem qualquer necessidade de uma revelação, como exige o conceito da transcendência.[xi]

A Nova Ortodoxia e o Conceito de Revelação


As idéias de bondade e de racionalidade inerentes ao homem foram questionadas e abandonadas quando irrompeu a Primeira Guerra Mundial, mas o contexto abriu espaço para o existencialismo que já havia sido preconizado por Soren Kierkegard. De qualquer forma, uma anomalia foi curada apenas para dar espaço à outra deficiência do pensamento humano.
Em 1923, Martin Buber, filósofo judeu alemão publicou o livro, “I and Thou”, onde propôs a existência de dois reinos de relacionamentos:
a)    I e It – Eu e Coisa
b)    I e Thou – Eu e Tu (pessoa)
Buber dizia que o homem ocidental, dominado pelo método empírico ou científico, vê o mundo como uma coleção de coisas. Que abstraímos, medimos, analisamos, identificamos, caracterizamos e projetamos, e que aplicamos esse método às pessoas. Ou seja, o homem ocidental tende a “coisificar” as pessoas e até mesmo a Deus. Para ele a mais alta forma de relacionamento (I e Thou) é aquele que acontece entre o homem e Deus, quando o ser humano deve se esvaziar de qualquer elemento “It” (coisa). Embora com apenas 90 páginas, o livro tem uma linguagem densamente filosófica.
Para Buber, o homem moderno é um observador distante no que tange aos relacionamentos. Para se conhecer alguém, é necessário um relacionamento íntimo. No “I and Thou” encontra-se a mais alta expressão de relacionamento, completamente destituído e esvaziado do “It” (coisa), ou seja, no encontro com Deus, não há envolvimento intelectual, característico do método científico.
As idéias de Buber surtiram efeito no pensamento de Emil Brunner, teólogo calvinista, conhecido como pai da Teologia do Encontro. O pensamento de Buber exerceu considerável influência no mundo cristão através de Brunner que cria na Queda do homem, na transcendência de Deus, em Jesus Cristo como a segunda pessoa da Trindade, na morte de cruz, porém tomou a idéia básica do relacionamento “I e Thou” e desenvolveu as suas implicações para a fé Cristã. Escreveu dois livros com propostas similares: “Truth as Enconter” (A Verdade como Encontro) e “Revelation and Reason” (Revelação e Razão), aplicando as idéias de Buber ao Cristianismo e afetando diretamente a doutrina da Revelação.
Brunner nega que a Revelação tenha conteúdo específico, que ela não é a comunicação de Deus ao profeta, mas o resultado do impacto do encontro. Para ele, o que está escrito é apenas o testemunho do profeta quanto ao seu encontro com Deus. As Sagradas Escrituras passam a ser apenas o testemunho do profeta, mas não é Revelação, mas a sua projeção primária. Por isso, para ele “as palavras da Bíblia não podem ser igualadas às palavras de Deus. A única revelação de Deus é Jesus Cristo, a Palavra ‘par excelence’”.
Ainda afirmava que as Escrituras não têm caráter normativo, tendo em vista que é apenas uma coleção de testemunhos de fé com o propósito de desenvolver no crente o mesmo tipo de experiência e que a revelação ocorre unicamente quando Cristo e Eu nos tornamos contemporâneos. Isto é, a Bíblia contém a Palavra de Deus, mas ela não é a Palavra de Deus, por isso o termo “Palavra” não pode ser aplicado a doutrinas, pois estas não são relevantes, ou mesmo adequadas para todas as pessoas, atentas aos “sinais dos tempos”. [xii]


Conclusão

Desde o Iluminismo o mundo ficou pressionado entre a ortodoxia racionalista e fria, propensa à negação do sobrenatural, e a explosão do emocionalismo místico, particularmente na religião Cristã. À medida que o crente foi alcançando maior liberdade de expressão religiosa, a razão, já maculada pelo secularismo, foi sendo abandonada e em seu lugar, se desenvolveu o experiencialismo.
O pentecostalismo surgiu nesse ambiente, quando o mundo evangélico se encontrava embriagado pela Teologia do Encontro. A tendência foi se avolumando e alcançando proporções gigantescas. Essa é uma das fortes razões pelas quais um crente pentecostal dá mais credibilidade às suas impressões interiores, às suas emoções do que a um “Assim diz o Senhor!”
É necessário um retorno à Palavra de Deus. Assim como a razão precisa ser santificada pela verdade, a experiência também deve ser testada por essa mesma verdade.

Pastor Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral.


[i] Revista Veja, Especial do Milênio, página 52.
[ii] Ibid.
[iii] Apontamentos da classe de Mestrado. Amin Rodor, Doutrina da Revelação e Inspiração (Engenheiro Coelho, SP: UNASP II, publicado em 1997), 11.
[iv] Vanderlei Dorneles, Transe místico (Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2002), 51.
[v] Ibid.
[vi] Amin Rodor, 13.
[vii] Ibid.
[viii] Dorneles, 53.
[ix] Ibid.
[x] Amin Rodor, 13-14.
[xi] Ibid., 14.
[xii] Ibid., 15-18.

SÁBADO, PROTEÇÃO CONTRA O EVOLUCIONISMO E ATEÍSMO



Introdução

         Até o ano de 1859, quando foi publicado o livro Origem das Espécies, nenhum teólogo duvidava da interpretação de Gênesis capítulo um[1], ou seja, que Deus criou o mundo em seis dias literais e “descansou” no sétimo.
         A partir de então, na medida em que os cristãos foram aderindo à teoria evolucionista e adaptando suas crenças bíblicas ao dogma darwinista, gradativamente se afastaram do relato bíblico, rejeitando sutilmente a doutrina da criação literal, e a vigência da observância do Sábado se tornou ainda  mais sem sentido para eles.

Conceitos do Mundo Cristão Atual Sobre o Relato da Criação

         Em 30 de outubro de 1996, a Revista Veja publicou um artigo sob o título “Darwin no Éden”, assinado por Laurentino Gomes, no qual aparecem as seguintes declarações:
         “A teoria científica mais combatida por muitos católicos nos últimos 100 anos ganhou na semana passada um aliado de peso: o papa João Paulo II. Numa mensagem à Academia de Ciências do Vaticano, o papa afirmou que a teoria da evolução e a fé em Deus são assuntos compatíveis. Exposta pela primeira vez em 1859 pelo naturalista inglês Charles Darwin, no livro Da Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural, essa teoria nunca teve o aval da Igreja porque contradiz a explicação literal da Bíblia para a criação da vida na Terra....
         A Igreja há muito tempo admite que alguns textos bíblicos são narrativas alegóricas, que não devem ser tomadas ao pé da letra. É o caso do livro Gênese, que trata da criação e cuja versão atual teria sido escrita por volta do ano 1200 antes de Cristo.”[2]
         Não apenas a Igreja Católica, mas grande parte do mundo Evangélico hoje rejeita a narrativa do Gênesis. A argumentação mais comum, que procura adaptar o relato da criação ao pensamento darwinista, seria que os dias da criação não foram de 24 horas, porém períodos longínquos. Dessa maneira, tronando possível (aparentemente) uma harmonização ou conciliação do Cristianismo com os postulados darwinistas.
         Há alguns problemas que verificaremos nesta tomada de posição:
1.      Para tais cristãos, Deus não é suficientemente poderoso para criar instantaneamente com a Sua Palavra. Ele precisaria de tempo;
2.      A teoria da Evolução, apenas um postulado, é assumida como fato científico.

Os Dias da Criação Foram Literais

         Uma análise cuidadosa demonstra que os dias da criação foram períodos de 24 horas. Observemos algumas proposições[3]:
1.     “Realmente, a idéia de que yom (dia) significa um período de tempo maior do que vinte e quatro horas não encontra comprovante nos dicionários hebraicos de renome, tais como o de Frants Buhl, Handwoerterbuch ueber das Alte Testament; o de Brown, Driver, Briggs, A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament; e Eduard Koenig, Woerterbuch zum Altem Testament. Skinner declara: “A interpretação de yom como aeon, fonte favorita para os harmonizadores de ciência e revelação, é oposta ao claro sentido da passagem e não tem justificação no uso hebraico.” – John Skinner, International Critical Commentary (Gênesis). Dillman diz: “As razões apresentadas por escritores antigos e modernos, para considerar esses dias como longos períodos de tempo, são inadequadas.” – August Dillman, Die Genesis.
2.     O uso de “yom” quando acompanhado por um número definido que serve de adjetivo. – Nos manuscritos hebraicos, em cada exemplo em que yom é acompanhado por um número definido, indica um dia solar. Temos o segundo yom da festa, o terceiro yom da viagem, o sétimo yom da semana, o décimo yom do mês, etc. Aplicando este princípio aos dias da semana da criação, encontraremos um período de vinte e quatro horas.
3.     A rapidez da execução. – A verdadeira enunciação da narrativa indica a brevidade do tempo envolvido. Para ilustrar, em Gênesis 1:11 a ordem dashá, quer dizer literalmente: “Que a terra faça brotar!” E o verso 12 registra a pronta resposta à ordem: a terra fez as plantas “saírem” (yatsá)... a fraseologia do registro de cada dia indica uma ação instantânea.
4.     Cada dia um período de luz e de trevas. – É impossível reconciliar o fato de que cada dia da semana da criação foi dividido em parte escura e parte clara, com a idéia de que cada um desses períodos era de milhões de anos... Tarde e manhã constituíam um período de vinte e quatro horas.
5.     As plantas e o período escuro. – No terceiro dia todas as espécies de plantas apareceram, as que produziam flores e sementes, bem como as formas mais simples. Evidentemente, se este “dia” fosse um período de tempo geológico, todas as plantas teriam perecido durante estes milhões de anos de escuridão, antes que a luz do quarto dia iluminasse o mundo. Portanto, este dia como os outros, foi um dia solar.
6.     Dependência entre plantas e animais. – De acordo com Gênesis, capítulo 1, as plantas, incluindo as fanerogâmicas, foram criadas no terceiro dia. Os animais, somente a partir do quinto dia.  A dependência entre as plantas e animais é muito evidente em nosso mundo. Para ilustrar, só em matéria de polinização, multidões de plantas não se reproduziriam sem a colaboração dos insetos. Ora, as plantas com sementes se reproduziram desde o princípio. Se os dias da semana da criação fossem períodos geológicos de vinte ou quarenta milhões de anos isso não seria possível.
7.     O Sábado não é um período geológico. – Em Êxodo 20:8–11 temos a enunciação do quarto mandamento:   
Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou”. Deus estabelece períodos de trabalho, e uma pausa para o descanso. Ordena que o homem use seis dias para trabalhar e um dia para atividades espirituais (repouso). Neste mandamento está claro a referência a dias literais.

A Importância do Sábado Para os Dias Atuais


         Ellen White declarou com muita propriedade que “se o verdadeiro Sábado houvesse sido guardado, jamais teria havido um incrédulo ou ateu. A observância do Sábado teria preservado da idolatria o mundo”.[4]
         Hoje, depois de termos chegado ao século vinte e um, em plena era pós-moderna, proliferam os chamados cristãos evolucionistas, para os quais a aceitação da observância do Sábado se torna quase impossível. Em nome da ciência, a Bíblia é relegada a um canto, ou a sua interpretação sacrificada em nome do ecumenismo religioso-científico.
         Os adventistas estão ficando cada vez mais isolados na defesa do Criacionismo autêntico, bem como na manutenção dos sólidos princípios apresentados na Palavra de Deus. Na raiz da rejeição do quarto mandamento, se encontra um afastamento da fé, revelando um espírito contrário à disposição nutrida por homens que sempre defenderam um “Assim diz o Senhor!”
A observância do sábado vincula o homem e a origem de sua raça aos seis dias da Criação e ao próprio Criador. Esta é conclusivamente uma ligação histórica. Aquele que observa o Sábado corretamente entende que a história daquilo que ele celebra é algo autêntico, e, portanto, crê na Criação do primeiro homem, na criação de uma linda habitação para ele no espaço de seis dias, no estabelecimento original do céu e da Terra, e como um antecedente necessário para tudo isso, no Criador que, ao final do último esforço criativo, repousou no sétimo dia. O sábado assim se torna um sinal pelo qual os crentes na revelação histórica são distinguidos de todos aqueles que permitiram que tais lembranças se apagassem.[5]
        

Conclusão


Por tudo isso, podemos afirmar que a observância do Sábado se tornou o distintivo dos que conservam na lembrança as origens de sua raça, tendo como ponto de partida o Deus Criador. Daqueles que não O reconhecem tão somente como Elohim, o Eterno Todo Poderoso, mas como JEOVÁ, o Deus transcendente, existente por Si mesmo, perene, Senhor da História, o qual Se revelou ao homem não somente com poder, mas com amor, misericórdia e graça!         

Pastor Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral.











   


[1] Frank Lewis Marsh, Ph.D., Evolution or Special Creation? (Washington, DC.: Review and Herald Publishing Association, 1963) , 61.
[2] Laurentino Gomes, “Darwin no Éden”, Revista Veja, 30 de outubro de 1996, pág. 47.
[3] Baseado nas razões apresentadas por Frank Lewis Marsh, Estudos Sobre Criacionismo, (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 177–181.
[4] Ellen White, Testemunho para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006), vol. 1, 76.
[5] Francis D. Nichol, Deus e Evolução (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1974), 71.