sexta-feira, 8 de junho de 2012

O MOVIMENTO DE CURA NOS ÚLTIMOS DIAS



INTRODUÇÃO
Embora pareça absurdo, nem sempre é o desejo de Deus curar o enfermo. Há circunstâncias nas quais a enfermidade age como polidora do caráter e amadurece a vida espiritual. O sofrimento ensina o crente a depender inteiramente de Deus. Mesmo o Senhor Jesus, “embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb 5:8).
Neste artigo será explicado que Deus age de forma diferente do que ensina a crença popular. A de que Ele sempre cura quando Lhe é solicitado, e que aqueles que não recebem o benefício da cura falharam em exercer fé. O artigo ainda demonstrará que, embora, as curas realizadas por Jesus tivessem um fim em si mesmo, também abriam o coração para a recepção das verdades bíblicas. Finalmente, que Deus não opera através daqueles que praticam a iniquidade.

QUANDO DEUS NÃO CURA
Exemplo de cura não efetuada é o caso dos problemas estomacais de Timóteo (1Tm 5:23). O apóstolo aconselhou que o jovem pastor tomasse um pouco de vinho (suco de uva) como solução terapêutica para os seus distúrbios estomacais. Um pastor pentecostal lhe teria recomendado que lesse a carta com a mão no estômago, tendo um copo d’água ao lado, afirmando que pela sua oração, a água estaria abençoada e curaria a sua enfermidade imediatamente.
Outros exemplos são os casos da doença de Trófimo (2Tm 4:20), da doença mortal de Epafrodito (Fp 2:25-27), das enfermidades de Paulo (2Co 12:7-9; Gl 4:13-15). O apóstolo justifica o fato de não ter sido curado “para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte” (2Co 12:7).
Cosmopolita, natural de Tarso, cidade insignificante nos seus dias, mas que se tornou a capital da província romana da Cicília em 22 a.C., Paulo era cidadão Romano (ver At 21:39; 9:11, 30; 11:25), instruído por um prestigiado mestre da época, Gamaliel (At 22:3). (Nepomuceno, Considerações introdutórias a “Atos e epístolas”, 17-18).
Por isso, podia se comunicar em Latim. E como membro do Sinédrio (que lhe conferia qualidades jurídicas), precisava falar o Hebraico, a língua litúrgica de Israel. Como morador de Jerusalém, falava o Siríaco. Tendo em vista que escreveu as suas cartas em Grego, também dominava este idioma. Tudo isso dava ao apóstolo, motivo de sobra para se ufanar. Nesse caso, a cura não lhe teria sido para edificação, pois, através da doença, ele se apegou incondicionalmente a Cristo (Gl 2:20).

O ESTIGMA DA FALTA DE FÉ
Há pessoas sobrecarregadas pela dor física a quem os pastores pentecostais acrescentam o fardo psicológico pelo estigma da falta de fé. “Você não é curado porque não tem fé!” O doutor Paul Tournier argumenta que quando o Evangelho fala da fé que cura, ele se refere às vezes à fé do sofredor: ‘Crede que eu posso fazer isso? Diz Jesus (Mt 9:28) aos cegos que procuravam cura junto a ele. Porém, mais frequentemente, trata-se da fé de outros, dos pais ou dos que intercedem pelo doente: o pai do epilético (Mc 9:23-24), os amigos do paralítico (Mc 2:5). Quando fala da oração que cura, o Evangelho algumas vezes se refere à oração do sofredor (Lc 17:13) e, mais frequentemente, à oração de outros (Mc 9:29; 7:26). Vemos Jesus Cristo curar doentes que não esperavam nada dele, como o paralítico de Betesda, por exemplo (Jo 5:5-9).
Tournier afirma que há pessoas que ultrapassaram rapidamente as fronteiras da verdade com seus testemunhos e generalizam, como se Deus curasse a todos os que O invocam. E culpam aos que recorrem à medicina científica ou aos medicamentos, como se estes não fossem também dons de Deus [Paul Tournier, Culpa e graça: uma análise do sentimento de culpa e o ensino do evangelho (São Paulo, SP: Aliança Bíblica Universitária do Brasil, 1985), 21-22.]

DEUS É SOBERANO SOBRE TUDO O QUE OCORRE NO MUNDO
Diferente do que pensam os pentecostais, o demônio não é o responsável por todos os males da vida humana. Somente Deus detém o controle absoluto da existência. Ainda assim, Satanás e seus comparsas são anjos (Ap 12:3-4, 7-9, 12), portadores de inteligência superior, tendo em vista que já habitaram o Céu. Essa é a razão pela qual são detentores de conhecimentos que transcendem a esfera humana (2Pe 2:11). Contudo, são anjos caídos, mestres nas artes do engano e da destruição (Is 14:16-17; 2Pe: 2:4; 2Jo 1:7; Ap 13:14).
A esfera de atuação onde estão mais concentrados é a religiosa. O seu interesse é frustrar os planos divinos para a salvação do homem. Por isso, as suas atividades compreendem: causar sofrimento (Jó 1-2), oferecer riquezas quando for conveniente, particularmente em troca de adoração (Mt 4:3-9; Lc 4:5-7), enganar (Jo 8:44), destruir (1Pe 5:8).
Há sérias advertências quanto à sua atuação nos últimos dias, quando deveria: atuar no ambiente religioso, levando os adeptos a pensarem que estão realizando autênticos milagres, como profecias, exorcismo, e maravilhas diversas (Mt 7:21-23). No verso 23 Jesus antecipa as palavras que serão ditas a esta classe, “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”. O termo grego para iniquidade é anomian [anomian], cujo significado é “transgressão da lei” (1Jo 3:4) [Ver: Harold K. Moulton, “anomia” e “nómos”, The Analytical Greek Lexicon Revised (AGLR), ed. (Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House, 1977), 31.]

O PERIGO DOS SINAIS E MARAVILHAS DOS ÚLTIMOS DIAS
Enquanto muitos religiosos se preocupam com sinais, maravilhas e milagres, se esquecem do preparo bíblico requerido e das advertências para os últimos dias quanto às atuações de Satanás. Jesus fez referência enfática ao surgimento de “falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24:24).
Paulo também se preocupou em advertir sobre os enganos dos últimos dias. Previu um declino na adesão à verdade devido à obediência “a espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (1Tm 4:1). Fascinados pelos milagres, os religiosos dos últimos dias “não suportarão a sã doutrina... e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2Tm 4:3-4).
O apóstolo se refere àqueles que serão engodados pelo engano, como os que “não acolheram o amor da verdade para serem salvos... não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça” (2Ts 2:10-12). Esses enganos são frutos da mente perversa de Satanás, cujo maior desejo é ser adorado como deus (Is 14:13-14; Mt 4:3-9; Lc 4:5-7; 2Co 4:4).
O apóstolo João advertiu que Satanás seria adorado num tempo de crise entre o verdadeiro povo de Deus e aqueles que se deixariam ludibriar pelos milagres de mentira (Ap 13:4, 8, 12-13). Os grupos que dão apoio ao sistema religioso corrupto estão confederados em três categorias: o dragão, a besta e o falso profeta (Ap 16:13) [Ver: Roy Allan Anderson, Revelações do Apocalipse, 2ª ed., trad., Carlos A. Trezza (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988)]. Essas corporações são motivadas por “espíritos de demônios, operadores de sinais” (Ap 16:14).
Os estupendos espetáculos de curas, maravilhas, milagres e exorcismo nas igrejas neopentecostais, onde o diabo é aparentemente subjugado, não passa de uma estratégia satânica para ter acesso à vida das pessoas. Enquanto se conservarem longe das verdades bíblicas, Satanás não se importará com o fato das pessoas pensarem que ele foi dominado e está fora da vida delas, bem como da dos pastores que supostamente o exorcizaram.

A RELAÇÃO DA CURA COM A OBEDIÊNCIA
Em pelo menos uma ocasião, Jesus afirmou que a enfermidade ocorreu para a glória de Deus (Jo 11:4). Devido ao fato dos Seus filhos ainda viverem no mundo de pecado, o corpo é natural, fraco (1Co 15:42-44), e corrompido (2Co 4:16). Este estado de coisas em que prevalece o corpo corruptível e mortal continuará sendo parte da frágil condição humana até a ocasião quando a redenção for completada pelo retorno de Jesus (1Co 15:51-55) [Josimir Albino do Nascimento, Igreja Universal do Reino de Deus: antecedentes históricos, análise de doutrinas distintivas e proposta evangelística (Tese Doutoral, 2010), 429-431, 417].
As curas efetuadas por Jesus tinham um fim em si mesmo. Pois, havia muito sofrimento na Palestina em Seus dias, e a doença grassava, ceifando a vida de muitos. Contudo, objetivavam demonstrar a capacidade do Messias de curar também a alma sobrecarregada pelo pecado. As Suas curas abriam as portas do coração para a recepção de verdades ainda ocultas aos olhos daqueles sofredores (Mt 12:22-23; Mc 5:15; Lc 8:38-39, 56, etc.).
Curar é um dom do Espírito que deve acompanhar a Igreja até o fim (Mc 16:15-18). Mas, o Espírito é concedido aos que Lhe obedecem (At 5:32), ou seja, àqueles que não praticam iniquidade, que não violam a lei de Deus (Mt 7:23; 1Jo 3:4). A santa lei divina está consubstanciada nos dez mandamentos (Êx 20:1-17) e muitos líderes que realizam as supostas curas, também são os primeiros a ensinar a revogação da lei moral, deixando uma enorme brecha para a entrada do pecado na vida dos seus membros.

CONCLUSÃO
O crente verdadeiro está familiarizado com o sofrimento, assim como Jesus o foi. Sabe que nem sempre Deus cura, pois, frequentemente, a dor é uma ferramenta nas mãos da onipotência para polir o caráter. Por isso, o fato de não ficar curado, não significa que faltou fé, mas que há um propósito naquela enfermidade. O Senhor está acima de tudo e sabe qual a real necessidade dos Seus filhos. Ele advertiu à Sua Igreja quanto aos perigos dos sinais e maravilhas de mentira dos últimos dias. Mas, deixou uma evidência poderosa para indicar a diferença entre o falso e o verdadeiro. Ou seja, o Espírito Santo realiza verdadeiros milagres apenas através daqueles que obedecem à lei de Deus.

Este artigo é parte dos argumentos da tese doutoral do autor.

Pr. Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral

Nenhum comentário:

Postar um comentário