quarta-feira, 27 de junho de 2012

A DOUTRINA BÍBLICA DO REBATISMO: É CORRETO O CRENTE SER BATIZADO UMA SEGUNDA VEZ




Introdução

         Durante muitos anos a igreja Adventista vem praticando o chamado rebatismo. Muitas pessoas não entendem, tendo em vista a afirmação do apóstolo Paulo: “uma  só fé, um só batismo” (Ef 4:5). Alguns criticam a prática como algo sem base escriturística. Nossa proposta com este trabalho é demonstrar que o rebatismo tem base bíblica, e ainda, que a relevância da mensagem apresentada pelo adventismo com o seu grupo de reformas proposto para a vida religiosa, moral e social demanda do crente uma profunda tomada de decisão. Demonstraremos a validade de um novo batismo através de argumentos bíblicos bem sólidos, na intenção de alcançar mais decisões a favor da maravilhosa mensagem adventista, tão peculiar para os nossos dias quanto foi a mensagem apostólica para os seus.

As Prefigurações do Rebatismo
       
O apóstolo Paulo praticou o rebatismo, como se pode constatar lendo  Atos 19:1-3. Por isso é muito importante encontrar as razões que o levaram a fazê-lo.  Paulo é reconhecido, com justiça, como o sistematizador da doutrina cristã. Uma de suas fortes características era sempre encontrar nas Escrituras do Antigo Testamento uma argumentação que apoiasse os seus pontos de vista e as suas práticas.
            O batismo cristão tem os seus paradigmas no Velho Testamento. Um desses é a circuncisão, da qual se pode afirmar, era tão relevante para o israelita quanto o batismo o é para o cristão. Ninguém negaria a importância da circuncisão como um "sinal" do concerto. Seria impossível admitir um prosélito sem que este fosse submetido ao rito, muito menos um judeu. Esta, portanto, era uma analogia do batismo cristão. Ou seja, para ser um autêntico israelita era necessária a circuncisão. Para ser um cristão verdadeiro é preciso ser batizado. A mesma importância que damos ao batismo, os hebreus atribuíam à circuncisão.
Há  ainda acontecimentos significativos que demarcaram a vida nacional de Israel, traçando uma linha divisória entre duas “etapas” distintas de sua experiência e trazendo em seu escopo toda a força de um símbolo: O Dilúvio, a passagem pelo Mar Vermelho e a travessia do rio Jordão. Tendo este fato como pano de fundo, vamos observar que estes acontecimentos da experiência israelita são figuras ou sombras do batismo cristão, principalmente se tomarmos como ponto de partida as figuras utilizadas por Paulo e Pedro.



Circuncisão, Uma Figura do Batismo Cristão

Batismo Antigo

Não se sabe exatamente qual a origem da prática, mas o batismo de prosélitos remonta à era pré-cristã. “É bem estabelecido que a maneira do  batismo prosélito era a imersão. O regulamento requeria que todo o corpo fosse coberto com água.” [1]

A Circuncisão

A circuncisão foi um sinal de concerto precursor do batismo. É por isso, importante conhecermos suas bases e estabelecermos uma relação entre ambos. A circuncisão destinava-se a:
1- Distinguir a semente de Abraão dos gentios (Ef 2:11);
2- Perpetuar a memória do concerto com Jeová  (Gn 17:11);
3- Fomentar o cultivo de pureza moral (Dt 10:16);
4- Representar a justificação pela fé (Rm 4:11);
5- Simbolizar a circuncisão do coração (Rm 2:29);
6- Prefigurar o rito cristão do batismo (Cl 2:11-12). [2]

Um Sinal do Concerto

            Assim como o sábado é um sinal de santificação e uma garantia de que o Deus a quem se serve é o verdadeiro Deus (Ez 20:12, 20), assim também, a circuncisão era um sinal de que a pessoa havia entrado em uma relação de concerto com o Eterno. Que ela teria, a partir de então, que respeitar as cláusulas deste concerto, mas seria objeto do especial cuidado divino.

Deus indicou sinais e memoriais de vários eventos significativos. O Sábado foi instituído como um memorial da criação; a circuncisão, do  concerto abraãmico; o batismo, da morte e ressurreição de Cristo; a Ceia do Senhor, do sacrifício vicário de Jesus. Sinais exteriores podem ensinar verdades espirituais, dessa forma tornando-se canais indicados por Deus para bênçãos espirituais. Assim, eles podem servir como uma memória perpétua da graça de Deus e de nosso próprio dever e responsabilidade. [3]

Para compreendermos a importância da circuncisão e sua relevância para a religião judaica basta notarmos o fato de que esta podia ser ministrada no Sábado (Jo 7:22 e 23; Fp 3:5). No entanto, não garantia a salvação de quem quer que fosse, assim como o rito do batismo também não garante a salvação do novo convertido (Lc 3:8; Jo 8:33-39; Rm 2:25-29; 9:4-8; Gl 3:7, 9, 16, 29). Da mesma forma que a circuncisão era o sinal do Velho Concerto, o batismo é o selo do Novo Testamento (Cl 2:10-12; Gn 17:10; Gl 3:7, 9, 27-29). Não havia na circuncisão, como não há no batismo, virtude maior do que a fé pessoal daquele que aceita o concerto (At 2:38; 3:19; 8:36 e 37). [4]
O batismo cristão foi prefigurado na velha dispensação pelo Dilúvio (1Pe 3:20 e 21). Enquanto o grande volume de águas foi o instrumento divino para erradicar os pecadores impenitentes, também serviu para introduzir o povo de Deus numa nova relação de concerto com Jeová. De uma maneira prefigurada, a família de Noé foi "batizada" nas águas do Dilúvio.
Por ocasião do Êxodo, algo semelhante aconteceu. O povo de Deus havia sido escravizado no Egito por séculos, onde aprendeu muitas de suas práticas e era impedido de observar as Suas leis, inclusive o Sábado. Ao atravessar o Mar Vermelho estavam rumando para uma nova relação com o Senhor, por isso, a passagem através do mar notabilizou um “batismo”, figura do batismo em Cristo (1Co 10:1-4).

O Dilúvio
       
O Dilúvio separa Noé e sua família de duas épocas distintas. A primeira “etapa” foi  caracterizada  pela corrupção do mundo ao ponto  de  atrair  os  juízos divinos. Durante o Dilúvio Noé viu desaparecer o que poderíamos chamar de “velha vida”. A segunda “etapa” foi caracterizada pela esperança de restauração e muita expectativa. Logo que o patriarca deixou o barco com sua família, ou seja, após o seu “batismo” (1Pe  3:20-21), Deus estabeleceu com ele uma  aliança,  acompanhada da promessa de não mais destruir a Terra com um  dilúvio de águas  (Gn  8:20-22).  Neste episódio há uma verdadeira analogia do batismo cristão, tendo em vista a sua característica demarcadora de duas “etapa” distintas na vida do crente.               

        
O Êxodo

            Algo bem parecido aconteceu no Êxodo. Durante o período de escravidão no Egito, o povo de Israel parece ter perdido muitos dos seus valores religiosos. O Sábado deixou de ser observado, e quando Moisés começou o processo de libertação, uma das primeiras práticas a serem restabelecidas foi sua observância (Êx 5:4). Depois que os israelitas atravessaram milagrosamente o Mar Vermelho, Deus os provou quanto à fidelidade a este importante mandamento (Êx 16:4-5, 26-30).
            No Egito eles também aprenderam a idolatria, cujos reflexos foram vistos na confecção do bezerro de ouro (Êx 32:1-10). Ao tirar o Seu povo de lá, o Senhor estava dando um novo rumo à vida espiritual de Israel.
            A travessia do Mar Vermelho foi uma bombástica demonstração da capacidade salvadora de Jeová. Algo que deveria influenciar a conduta de Seu povo por milênios, porém, acima de tudo, almejava a total entrega deles. A partir daquele episódio, a vida do israelita estaria dividida em duas “etapas”, ou seja, antes e depois da travessia. O apóstolo Paulo encara a travessia do Mar Vermelho como um “batismo” do povo de Israel, no qual foram introduzidos numa nova relação para com Deus (1Co 10:1-4).

A Travessia do Jordão


            Muito embora grandes milagres tenham sido operados em favor deles, tais como: a chuva de maná (Êx 16), a preservação das suas roupas (Dt 29:5), sombra durante os dias quentes do deserto e a coluna de fogo à noite para aquecer e iluminar (Êx 13:22), o povo de Israel deixou de confiar inteiramente no Senhor, e por isso, deveria vagar durante quarenta anos (Nm 14:20-38) até que uma nova geração fosse introduzida na terra de Canaã.
            Quarenta anos se passaram e Josué estava na liderança da nova geração, no entanto, tudo o que pudesse representar a “velha vida” do deserto deveria ficar para trás. Esses jovens pisariam a terra de Canaã como uma classe redimida, transformada e pronta para a nova “etapa” da vida nacional e espiritual de Israel. A travessia do Jordão (Js 3) não foi menos impressionante que a do Mar Vermelho, e provia um milagroso “batismo” como introdução à uma “nova vida”. 

O Batismo Judaico e o Batismo de João

  Os judeus praticavam o batismo por imersão, mas apenas para os prosélitos. Não reconheciam sua autenticidade se ministrado a um israelita: “Embora os judeus reconhecessem a validade do batismo dos prosélitos, o rito era apenas para os conversos gentios ao judaísmo. Que João o requeresse dos próprios judeus, e até mesmo dos lideres religiosos, era um aspecto chocante do seu batismo”. [5]
            Os essênios, ao contrário dos judeus hierosolimitanos, se batizavam diariamente como uma maneira de lavar os seus pecados, embora não perdessem de vista o aspecto simbólico. Qumran, local onde viviam, dista cerca de 24 quilômetros de onde João batizava. Os judeus não questionavam o procedimento de João ao batizar, mas sua autoridade para realizá-lo (Jo 1:19-28).
João Batista foi o precursor de Jesus Cristo. Antes mesmo de nascer foi escolhido para uma missão peculiar, totalmente singular, pois deveria preparar o coração das pessoas para receber o Messias. Uma das suas atribuições era introduzir o crente em um novo padrão de vida espiritual (Lc 3:7-14). Todos os que lhe procuravam já criam em Deus, eram israelitas, pertenciam ao povo portador dos oráculos divinos. No entanto, algo novo e revolucionário estava diante deles. Na realidade, um desafio à integridade de sua fé.
            O Judaísmo constituía a “Igreja” estabelecida do Antigo Testamento. Não era nada fácil para um judeu aceitar novos preceitos e um conceito religioso diferente do que havia aprendido. Tal inovação era a proposta da pregação de João, pois é impossível receber o Messias e ainda continuar sendo o mesmo.
Jesus considerava o Batista mais que um profeta (Lc 7:26-28). Os efeitos de sua pregação foram fantásticos (Lc 7:29), mas, ainda assim, os fariseus e intérpretes da lei a rejeitaram e, dessa forma, declinaram do desígnio de Deus (Lc 7:30). A mais forte evidência da aceitação dos planos divinos para eles naquele momento da história sagrada seria receber o batismo de João. 
            Como acontece com outros ritos, tanto do Judaísmo como do próprio Cristianismo, o batismo não tem em si mesmo nenhuma virtude. Não há poder salvador no rito. Deve ser ministrado para o que crê em Cristo (At 8:37; Rm 10:9). Não transforma descrentes em fiéis testemunhas do Evangelho. Deve ser praticado pelos que se arrependem dos seus pecados (At 2:38; 19:19). Daí, a herança natural abraãmica de nada vale (Mt 3:9; Jo 8:33, 39, 53; Rm 11:21; Gl 3:7, 29; Tg 2:21).
            Como lemos em Lucas 7:30, os fariseu rejeitaram o desígnio de Deus ao recuarem  diante  do  batismo ministrado por João. A mensagem do Batista era própria para o seu tempo, pois, constituía a verdade presente (2Pe 1:12). A rejeição daquela mensagem equivalia à recusa da Palavra de Deus. Como já foi afirmado, não era nada fácil para um judeu se deixar batizar, pois, estavam seguros de que a aliança abraãmica os destacava como povo eleito. Porém, um estudo cuidadoso das profecias seria o suficiente para demonstrar a relevância da mensagem de João (Lc 3:1-6; Isaías 40:3-5) e a necessidade do seu batismo.
            Quando os fariseus e escribas indagaram de Jesus o porquê de Seus discípulos não jejuarem como faziam os seguidores de João, bem como os dos fariseus, Jesus lhes contou uma parábola:
Ninguém tira pedaço de veste nova e o põe em veste velha; pois que rasgará a nova e o remendo da nova não se ajustará à velha. E ninguém põe vinho novo em odres velhos, pois que o vinho novo romperá os odres; entornar-se-á o vinho e os odres se estragarão. Pelo contrário, vinho novo deve ser posto em odres novos [e ambos se conservam]. E ninguém, tendo bebido o vinho velho, prefere o novo; porque diz: O velho é‚ excelente (Lc 5:36-39).         
Há maravilhosas lições que podemos tirar dessa parábola:
1- Seria inútil tentar reformar velhas instituições religiosas depois de estarem maculadas pelo formalismo religioso. O que aconteceu aos fariseus se repete nos dias atuais. Apegados às tradições, os lideres espirituais de nossos dias não se importam com a verdade e nem examinam as Escrituras.
2- Jesus disse que os que provam do vinho velho não apreciarão o vinho novo, ou seja, o apego a costumes e tradições é tão exacerbado no mundo religioso que frequentemente as pessoas negligenciam novos esclarecimentos em detrimento de velhos conceitos.
O apóstolo Paulo escrevendo aos romanos sobre quem na verdade é israelita, e tomando a circuncisão como um sinal de concerto disse, “porque a circuncisão tem valor se praticardes a lei; se és, porém, transgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou incircuncisão” (Rm 2:25). Se for feito o mesmo, tomando o batismo como sinal de concerto, se pode afirmar que a validade deste se condiciona a obediência à santa lei moral de Deus.

O Rebatismo em Éfeso

            Em Atos 19:1-7 há o curioso relato de um rebatismo. Os judeus estavam espalhados por toda a parte do mundo antigo. Muitos dos que haviam ouvido a mensagem de João saíram mundo afora, movidos pelo zelo missionário, entre eles, esse grupo de doze homens. A pregação de João incluía o chamado ao arrependimento, vida reta, a aceitação do Messias cuja vinda estava às portas e o batismo (Lc 3:1-20).
Porém, um importante aspecto de sua mensagem, era a antecipação do poderoso ministério do Espírito Santo após a chegada do Messias (Lc 3:16). O Espírito Santo era, portanto, um tema preponderante da pregação do Batista (Mt 3:11). Ainda assim, os crentes de Éfeso afirmaram não ter conhecimento, se quer de Sua existência.
É possível, que de certa forma, eles tivessem uma vaga teoria a respeito, sem nenhuma evidencia prática (mas é pouco provável). Há ainda uma possibilidade de terem sido batizados por Apolo antes deste receber instruções mais completas de Aquila e Priscila. Se assim aconteceu, então os crentes de Éfeso foram batizados no batismo de João, mas não diretamente por ele. Uma coisa é certa. Não haviam experimentado a justiça, paz e alegria que lhes pertencia no Espírito (Rm 14:17): “Paulo provavelmente notou nesses homens uma falta dos dons espirituais, e talvez uma ausência de paz, alegria e radiância que eram revelados nos que são trazidos à plenitude da mensagem do Evangelho.”[6] Tudo isso indicava a necessidade de renovação da fé, tendo como base a aceitação da verdade presente.
Aqui está um exemplo de indivíduos rebatizados com base na recepção de verdades vitais, novas para eles... Quando alguém já houver sido batizado em Cristo, o rebatismo é requerido apenas se houver apostasia definida das crenças e padrões que requer o discipulado em Cristo - exceção a essa regra geral seriam os casos como o que fora aqui descrito.[7]

            Aqueles crentes não conheciam a mensagem da justificação pela fé em Cristo, não estavam familiarizados com a “verdade presente”. Sua religião embora fosse boa, autêntica e divina, já havia cumprido o seu papel e passara. Paulo os rebatizou, eles por sua vez acolheram as novas com alegria, pois, com a mesma sinceridade com que haviam recebido a mensagem de João, acolhiam agora a nova luz.
Há ainda para nós outras lições na experiência daqueles conversos judeus. Quando eles receberam o batismo das mãos de João, não compreenderam completamente a missão de Jesus como Aquele que leva o pecado. Mantinham sérios erros. Mas com mais clara luz, alegremente aceitaram a Cristo como seu Redentor, e com este passo de progresso veio uma mudança em suas obrigações. Ao receberem uma fé mais pura, houve uma correspondente mudança em sua vida. Como sinal desta mudança, e em reconhecimento de sua fé em Cristo, foram rebatizados no nome de Jesus.[8]


Rebatismo na Igreja Adventista do Sétimo Dia
 
A mensagem adventista é tão peculiar e própria para este tempo, quanto foi a mensagem dos apóstolos para o seu tempo. Os adventistas pregam a vigência da lei moral de Deus, inclusive a obrigatoriedade da guarda do Sábado do quarto mandamento. Ensinam a doutrina bíblica da imortalidade condicional, ou seja o homem é candidato à vida eterna, não a possui incondicionalmente como pregam unanimemente as instituições religiosas. Na igreja Adventista foi restabelecido o dom profético e, através dele, recebem instruções quanto a educação, vestuário e saúde. O movimento adventista surgiu como resultado do grande reavivamento religioso do século XIX, depois de fervorosos estudos da Palavra de Deus sobre profecias de tempo convergindo para a restauração do legítimo culto de Deus no período que antecede o retorno do Senhor Jesus.
Portanto, a reivindicação pelo novo batismo não é, por assim dizer, feita pela igreja, mas pela própria Palavra de Deus. Os Anabatistas, no século XVII foram os reformadores de sua época. Eram defensores da idéia de separação entre Igreja e Estado, defendiam também um estilo de vida simples, e reconheciam no batismo por imersão a única forma que condiz com a doutrina bíblica do batismo (Rm 6:3-6), por isso realizavam novo batismo nos conversos vindos da religião oficial.

Conclusão

 Um estudo cuidadoso do assunto demonstra que na história do povo de Deus são encontrados os precedentes para o rebatismo. Cronologicamente, o primeiro “batismo” (embora num sentido figurado) ocorreu no Dilúvio (1Pe 3:20-21). Na era patriarcal foi instituída a circuncisão (Gn 17:9-14).
Os israelitas foram submetidos a novo batismo na passagem do Mar Vermelho (1Co 10:1-4), depois de terem declinado da fé durante o período do cativeiro. A passagem pelo Jordão caracterizou outro batismo, tendo em vista a triste experiência de repetida apostasia durante os quarenta anos no deserto.
O batismo de João, verdadeiro “rebatismo”, foi uma proposta de trazer de volta para Deus um remanescente fiel. E, finalmente, o rebatismo de Éfeso (At 19:1-5) introduziu os crentes “batistas” numa nova relação de concerto com Deus através da recepção da “verdade presente” e do Espírito Santo.
Quando o apóstolo assegura haver um só Deus, uma só fé e um só batismo, a concepção de suas palavras transcende a idéia de número. Está afirmando que para uma fé verdadeira e para um Deus verdadeiro, existe apenas um batismo verdadeiro. No caso dos crentes de Éfeso, o que autenticou sua experiência de conversão foi o segundo batismo, ou seja, o rebatismo.
            Quando o crente sincero descobre que esteve violando um dos mandamentos da lei moral não hesita em receber um novo batismo, pois, como disse Jesus, não se pode por vinho novo em odres velhos.




[1] Seventh- day Adventist Bible Commentary (SDABC), ed. Francis D. Nichol (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1953-1954), 5:297.

[2] SDABC, 1:322.

[3] SDABC, 1:323.

[4] SDABC, 4:689.

[5] SDABC, 5:298.

[6] SDABC, 6:372.

[7] SDABC, 1:373.

[8] Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1976), 285.

Autor:
Pr. Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O CONFLITO CÓSMICO, A NATUREZA DE MIGUEL, O ARCANJO, E O SOFRIMENTO HUMANO


INTRODUÇÃO
Neste artigo serão identificados: a natureza do conflito cósmico, os elementos envolvidos nesse conflito, o papel da lei divina na controvérsia, a natureza de um ser, aparentemente controvertido, Miguel o arcanjo e a razão do sofrimento humano. Obtidas as informações necessárias sobre a luta entre o bem, é possível compreender o papel da lei divina no grande conflito, e valorizar ainda mais o caráter salvífico da missão de Cristo.

Lúcifer no Jardim do Éden
É mister atentar para o relato sagrado sobre o desenrolar do conflito cósmico. A Bíblia não relata quando ocorreu a queda de Lúcifer, mas informa quanto às suas motivações e os elementos envolvidos na controvérsia. No livro de Ezequiel está retratada, na figura tipológica do rei de Tiro, contra quem e contra o que se voltou a rebelião luciferiana. O profeta descreve o surgimento, o amadurecimento e a consumação da rebelião:
Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te contemplem. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu, e te reduzi a cinzas sobre a terra, aos olhos de todos os que te contemplam. Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; vens a ser objeto de espanto e jamais subsistirás.[1]
O Éden referido no verso 13 é a habitação de Deus, lugar associado à glória e grandeza (Ez 31:18), e símbolo de fertilidade (Is 51:3; Ez 36:35; Jl 2:3). O paralelismo de Isaías 51:3 coloca o Éden como sinônimo de “jardim do SENHOR”. Em Ezequiel 28:13, “jardim de Deus” é o aposto de “Éden” e está localizado no “monte santo de Deus” (Ez 28:14, 16) de onde Lúcifer foi lançado. Trata-se, portanto, do Céu (2Cr  6:21, 30, 33, 39; 30:27).
O verso 13 também descreve a exuberância de Lúcifer retratando o seu revestimento de pedras preciosas, o que demonstra a sua importância e “a enumeração dessas várias jóias enfatizam a posição exaltada daquele que, depois de Cristo, era o mais honrado no céu.”[2] Há duas informações dignas de nota nos verso 13. A primeira indica tratar-se de um ser criado. A segunda, a sua retratação utilizando elementos ligados ao mais solene da liturgia do santuário. As pedras preciosas são as mesmas que compunham o peitoral do sumo sacerdote (Ex 28:17; 39:8-14).
E no verso 14, a expressão “querubim da guarda”, remete ao mais sagrado do santuário. A arca da aliança no santo dos santos era ladeada por dois querubins de ouro, uma representação dos querubins que assistem na presença de Deus (Ex 25:20; Sl 80:1). Além disso, era “ungido”. Como ocorria na liturgia do santuário terrestre com os sacerdotes, cuja unção acontecia com um óleo especial (Ex 30:22-25; 40:13-15).
Essa descrição forte deixa transparecer a magnitude e singularidade desse ser, então luminoso. Por isso, no verso 15 o profeta retrata Deus falando de Lúcifer como “perfeito (tāmîm [Mymt])[3] eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado”. Neste verso é repetida a afirmação de que se trata de um ser criado em quem “se achou iniquidade”.

A Lei de Deus no Centro do Conflito
A natureza do conflito cósmico é determinada pelo entendimento desse processo de transição, através de quatro expressões utilizadas pelo profeta nos versos 15 e 16: “iniquidade” (‘āwelâtah [htlwe]),[4] “multiplicação do seu comércio”, “encheu o teu interior de violência” e “pecaste” (vatehettā [ajxtw]).[5] A expressão “iniquidade” e “pecado” são usadas intercambiavelmente no Novo Testamento com o sentido de “quebra da lei” de Deus (1Jo 3:4).
A Almeida Revista e Atualizada verte o texto assim: “o pecado é a transgressão da lei”; e a Almeida Revista e Corrigida, dessa maneira: “o pecado é iniqüidade”, tradução do grego, e amartia estin e anomia [h amartia estin h anomia]. O termo anomia é uma junção do prefixo de negação a com o substantivo nómos (lei),[6] ou seja, “transgressão da lei”. O termo iniquidade em Português significa falta de equidade, que por sua vez, quer dizer: “Sentimento de justiça avesso a um critério de julgamento ou tratamento rigoroso e estritamente legal.”[7]
Sumariando, um dos problemas de Lúcifer foi com a lei de Deus, a lei que imperava no Céu, no “monte santo”.  Lei que não apenas trata da “disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um”,[8] mas “é tão sagrada como Ele [Deus] próprio”[9] (Sl 111:7-8). O que foi revelado através de Ezequiel também é visto em outras porções da Bíblia.
Em Apocalipse 12:3-4, João contemplou “um dragão, grande, vermelho” (o diabo, v. 9). “A sua cauda arrastava a terça parte das estrelas do céu, as quais lançou para a terra”. Na imagem pictórica apocalíptica, estrelas com frequência representam anjos (Jó 38:7; Is 14:12). O instrumento usado por Lúcifer para ludibriar a terça parte dos anjos foi “a sua cauda”.
Cauda é um termo simbólico diretamente relacionado com desobediência à lei de Deus: “O SENHOR te porá por cabeça e não por cauda; e só estarás em cima e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do SENHOR, teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir” (Dt 28:13).  A “cauda” está virtualmente conjugada à mentira: “o profeta que ensina a mentira é a cauda” (Is 9:15).
Portanto, Lúcifer usou argumentos mentirosos (Jo 8:44), mas convincentes sobre a lei de Deus e contra ela. E até certo ponto, obteve êxito, pois convenceu uma parcela dos anjos e depois, dos homens, de que a lei de Deus não é necessária, no todo ou em parte. Isso é explicado pela expressão, “na multiplicação do teu comércio”. Comércio pressupõe compra e venda, mas não se trata aqui de objetos, mas de ideologia, vendida por aquele que se tornaria o arquienganador, e comprada pelos anjos que se tornariam demônios e posteriormente, por homens transformados em “falsos profetas”. 
A Identidade de Miguel no Conflito Cósmico
Contudo, a motivação do anjo caído é explicada pela “violência” do seu interior. O desenrolar do conflito cósmico explica que esta hostilidade era voltada contra Cristo, pois é o representante da divindade que confronta Satanás no campo de batalha espiritual. Antes da encarnação, ele aparece na figura pictórica do arcanjo Miguel:[10] Tendo em vista que Lúcifer pretendia ser “semelhante ao Altíssimo” (Is 14:12-14), o nome Miguel, uma pergunta que sugere a sua relação com a divindade, é também uma reprovação ao anjo caído. Quem é como Deus, senão Cristo?
Miguel é retratado expulsando Satanás e seus anjos do Céu (Ap 12:7-9), lutando contra o “rei da Pérsia” [um símbolo do anjo mal][11] (Dn 10:13, 21), defendendo o povo de Deus no tempo de angústia, no fim do qual “muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão” (Dn 12:1-2). E somente Deus tem o poder de ressuscitar, mas Miguel aparece na disputa com Satanás pelo corpo de Moisés (Dt 34:6; Jd 9) que é contemplado já ressuscitado na transfiguração de Jesus (Mt 17:1-3).
Paulo descreve Jesus descendo do céu “com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus”. A voz de arcanjo é uma inferência da presença de Miguel como vista em Daniel 12:1-2, pois, “os que morreram em Cristo ressuscitarão” (1Ts 4:16 ARC). E na sua carta aos coríntios, aludindo ao mesmo episódio, escreve: “ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis” (1Co 15:52). A mesma trombeta tocada por Jesus com voz de arcanjo em 1 Tessalonicenses 4:16.

O Conflito Cósmico e o Sofrimento Humano
Portanto, Miguel é uma representação pictórica de Jesus contra quem Satanás dirigiu o seu ódio, a sua violência interior. Dessa maneira, os dois objetos da aversão de Satanás são: a lei de Deus e Cristo. E, consequentemente, os Seus seguidores.
Tendo em vista a luta desencadeada pelo conflito cósmico, a origem da pobreza, da perda e da doença não pode ser simplesmente atribuída diretamente ao mal,[12] ou ao inferno,[13] isentando a quem está em Cristo dessas condições, conforme afirmam os líderes neopentecostais.
Logo no começo de sua narrativa, a Bíblia trata da dor gerada pela Queda do homem. Passaria a experimentar fadigas (Gn 3:17), a terra produziria “cardos e abrolhos”, mas dela o homem teria que tirar o seu sustento (v. 18), “no suor do rosto”, e finalmente experimentar a morte (v. 19). A mulher teria mesclada à alegria de dar a luz, o sofrimento físico da gravidez e a dor do parto (v. 16). Toda a natureza entrou num processo de sofrimento devido à Queda (Rm 8:18-23).
Felizmente, a Bíblia termina a sua narrativa retratando a Terra renovada, apropriadamente revestida de delícias para a habitação da humanidade redimida. Nela não haverá mais desconforto provocado pelas agruras da sobrevivência, nem a dor do parto e nem a separação causada pela morte (Ap 21:1-4; 22:1-5).
O problema do sofrimento desencadeado pela doença, pela pobreza ou outros fatores, está diretamente relacionado com a condição humana caída. Os elementos entrelaçados com a existência humana como atenuantes ou agravantes, são: Deus, o Criador; o Diabo, o adversário; o próprio homem e o planeta.
A primeira causa da desventura humana foi o pecado, o causador, o príncipe das trevas, e o homem, a vítima. Porém, não vítima inconsciente, pois foi advertido sobre o mal, quando ainda em estado de pureza (Gn 2:15-17).  A queda do homem foi o fracasso em atender a Deus, por isso, agora precisa aprender a obediência.
CONCLUSÃO
O pecado, a transgressão à lei moral de Deus, nasceu no coração de um anjo perfeito que se corrompeu. A inveja contra Cristo encheu o seu coração, e devido à sua sabedoria, usando de artifícios ardilosos, convenceu a terça parte dos anjos do Céu a se tornarem pecadores assim como ele.
A rebelião contra a lei divina e contra Cristo continuou na Terra, razão pela qual existe tanto sofrimento e dor. Satanás prolonga a sua luta contra o Céu atingindo aos filhos de Deus que estão bem no centro do conflito. Contudo, as dores infligidas contra os crentes os tornam ainda mais decididos a obedecerem aos reclamos da lei divina. Pois, sabem que no futuro a Terra será renova e revestida de delícias, e se tornará o lar dos remidos!

Este artigo é parte dos argumentos da tese doutoral do autor, compreendendo as páginas 378-385.
Pr. Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral



[1] Ezequiel 28:13-19.
[2] “every preciuos stones” [Ez 28:13], SDABC, 4:676.
[3] “Aquilo que é eticamente direito, correto”. Ver: J. Barton Payne, “tāmîm”, DITAT, 1647-1649.
[4] De ‘āwel, ‘āwlâ – injustiça, iniquidade, “um ato ou feito contra aquilo que é correto... comportamento que se opõe ao caráter divino”; Ibid.; “‘āwel, ‘āwlâ”.
[5] De hātā – errar, sair do caminho, pecar, tornar-se culpado; Ibid., “hātā’’.
[6] Ver: Moulton, “anomia” e “nómos”, AGLR, 31.
[7] Ver: Ferreira, “iniquidade” e “equidade”, DAEXXI.
[8] Ibid.
[9] Ellen G. White, Patriarcas e profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s. d.), 40. 1CD-Rom.
[10] Miguel significa, “Quem é como Deus?”. Ver: Miller and Miller, Haper’s Bible Dictionary, “Michael”.
[11] William H. Shea, The Abundant Life Bible Amplifier: A Practical Guide to Abundant Christian Living in the Book of Daniel 7-12, George R. Knight, ed. (Boise, ID: Pacific Press Publishing Association, 1996), 172.
[12] Edir Macedo, Como fazer a obra de Deus, 11.
[13] Ibid., Fé e dinheiro: o dinheiro é a raiz de todos os males?, 11, 12.

O MOVIMENTO DE CURA NOS ÚLTIMOS DIAS



INTRODUÇÃO
Embora pareça absurdo, nem sempre é o desejo de Deus curar o enfermo. Há circunstâncias nas quais a enfermidade age como polidora do caráter e amadurece a vida espiritual. O sofrimento ensina o crente a depender inteiramente de Deus. Mesmo o Senhor Jesus, “embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb 5:8).
Neste artigo será explicado que Deus age de forma diferente do que ensina a crença popular. A de que Ele sempre cura quando Lhe é solicitado, e que aqueles que não recebem o benefício da cura falharam em exercer fé. O artigo ainda demonstrará que, embora, as curas realizadas por Jesus tivessem um fim em si mesmo, também abriam o coração para a recepção das verdades bíblicas. Finalmente, que Deus não opera através daqueles que praticam a iniquidade.

QUANDO DEUS NÃO CURA
Exemplo de cura não efetuada é o caso dos problemas estomacais de Timóteo (1Tm 5:23). O apóstolo aconselhou que o jovem pastor tomasse um pouco de vinho (suco de uva) como solução terapêutica para os seus distúrbios estomacais. Um pastor pentecostal lhe teria recomendado que lesse a carta com a mão no estômago, tendo um copo d’água ao lado, afirmando que pela sua oração, a água estaria abençoada e curaria a sua enfermidade imediatamente.
Outros exemplos são os casos da doença de Trófimo (2Tm 4:20), da doença mortal de Epafrodito (Fp 2:25-27), das enfermidades de Paulo (2Co 12:7-9; Gl 4:13-15). O apóstolo justifica o fato de não ter sido curado “para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte” (2Co 12:7).
Cosmopolita, natural de Tarso, cidade insignificante nos seus dias, mas que se tornou a capital da província romana da Cicília em 22 a.C., Paulo era cidadão Romano (ver At 21:39; 9:11, 30; 11:25), instruído por um prestigiado mestre da época, Gamaliel (At 22:3). (Nepomuceno, Considerações introdutórias a “Atos e epístolas”, 17-18).
Por isso, podia se comunicar em Latim. E como membro do Sinédrio (que lhe conferia qualidades jurídicas), precisava falar o Hebraico, a língua litúrgica de Israel. Como morador de Jerusalém, falava o Siríaco. Tendo em vista que escreveu as suas cartas em Grego, também dominava este idioma. Tudo isso dava ao apóstolo, motivo de sobra para se ufanar. Nesse caso, a cura não lhe teria sido para edificação, pois, através da doença, ele se apegou incondicionalmente a Cristo (Gl 2:20).

O ESTIGMA DA FALTA DE FÉ
Há pessoas sobrecarregadas pela dor física a quem os pastores pentecostais acrescentam o fardo psicológico pelo estigma da falta de fé. “Você não é curado porque não tem fé!” O doutor Paul Tournier argumenta que quando o Evangelho fala da fé que cura, ele se refere às vezes à fé do sofredor: ‘Crede que eu posso fazer isso? Diz Jesus (Mt 9:28) aos cegos que procuravam cura junto a ele. Porém, mais frequentemente, trata-se da fé de outros, dos pais ou dos que intercedem pelo doente: o pai do epilético (Mc 9:23-24), os amigos do paralítico (Mc 2:5). Quando fala da oração que cura, o Evangelho algumas vezes se refere à oração do sofredor (Lc 17:13) e, mais frequentemente, à oração de outros (Mc 9:29; 7:26). Vemos Jesus Cristo curar doentes que não esperavam nada dele, como o paralítico de Betesda, por exemplo (Jo 5:5-9).
Tournier afirma que há pessoas que ultrapassaram rapidamente as fronteiras da verdade com seus testemunhos e generalizam, como se Deus curasse a todos os que O invocam. E culpam aos que recorrem à medicina científica ou aos medicamentos, como se estes não fossem também dons de Deus [Paul Tournier, Culpa e graça: uma análise do sentimento de culpa e o ensino do evangelho (São Paulo, SP: Aliança Bíblica Universitária do Brasil, 1985), 21-22.]

DEUS É SOBERANO SOBRE TUDO O QUE OCORRE NO MUNDO
Diferente do que pensam os pentecostais, o demônio não é o responsável por todos os males da vida humana. Somente Deus detém o controle absoluto da existência. Ainda assim, Satanás e seus comparsas são anjos (Ap 12:3-4, 7-9, 12), portadores de inteligência superior, tendo em vista que já habitaram o Céu. Essa é a razão pela qual são detentores de conhecimentos que transcendem a esfera humana (2Pe 2:11). Contudo, são anjos caídos, mestres nas artes do engano e da destruição (Is 14:16-17; 2Pe: 2:4; 2Jo 1:7; Ap 13:14).
A esfera de atuação onde estão mais concentrados é a religiosa. O seu interesse é frustrar os planos divinos para a salvação do homem. Por isso, as suas atividades compreendem: causar sofrimento (Jó 1-2), oferecer riquezas quando for conveniente, particularmente em troca de adoração (Mt 4:3-9; Lc 4:5-7), enganar (Jo 8:44), destruir (1Pe 5:8).
Há sérias advertências quanto à sua atuação nos últimos dias, quando deveria: atuar no ambiente religioso, levando os adeptos a pensarem que estão realizando autênticos milagres, como profecias, exorcismo, e maravilhas diversas (Mt 7:21-23). No verso 23 Jesus antecipa as palavras que serão ditas a esta classe, “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”. O termo grego para iniquidade é anomian [anomian], cujo significado é “transgressão da lei” (1Jo 3:4) [Ver: Harold K. Moulton, “anomia” e “nómos”, The Analytical Greek Lexicon Revised (AGLR), ed. (Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House, 1977), 31.]

O PERIGO DOS SINAIS E MARAVILHAS DOS ÚLTIMOS DIAS
Enquanto muitos religiosos se preocupam com sinais, maravilhas e milagres, se esquecem do preparo bíblico requerido e das advertências para os últimos dias quanto às atuações de Satanás. Jesus fez referência enfática ao surgimento de “falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24:24).
Paulo também se preocupou em advertir sobre os enganos dos últimos dias. Previu um declino na adesão à verdade devido à obediência “a espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (1Tm 4:1). Fascinados pelos milagres, os religiosos dos últimos dias “não suportarão a sã doutrina... e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2Tm 4:3-4).
O apóstolo se refere àqueles que serão engodados pelo engano, como os que “não acolheram o amor da verdade para serem salvos... não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça” (2Ts 2:10-12). Esses enganos são frutos da mente perversa de Satanás, cujo maior desejo é ser adorado como deus (Is 14:13-14; Mt 4:3-9; Lc 4:5-7; 2Co 4:4).
O apóstolo João advertiu que Satanás seria adorado num tempo de crise entre o verdadeiro povo de Deus e aqueles que se deixariam ludibriar pelos milagres de mentira (Ap 13:4, 8, 12-13). Os grupos que dão apoio ao sistema religioso corrupto estão confederados em três categorias: o dragão, a besta e o falso profeta (Ap 16:13) [Ver: Roy Allan Anderson, Revelações do Apocalipse, 2ª ed., trad., Carlos A. Trezza (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988)]. Essas corporações são motivadas por “espíritos de demônios, operadores de sinais” (Ap 16:14).
Os estupendos espetáculos de curas, maravilhas, milagres e exorcismo nas igrejas neopentecostais, onde o diabo é aparentemente subjugado, não passa de uma estratégia satânica para ter acesso à vida das pessoas. Enquanto se conservarem longe das verdades bíblicas, Satanás não se importará com o fato das pessoas pensarem que ele foi dominado e está fora da vida delas, bem como da dos pastores que supostamente o exorcizaram.

A RELAÇÃO DA CURA COM A OBEDIÊNCIA
Em pelo menos uma ocasião, Jesus afirmou que a enfermidade ocorreu para a glória de Deus (Jo 11:4). Devido ao fato dos Seus filhos ainda viverem no mundo de pecado, o corpo é natural, fraco (1Co 15:42-44), e corrompido (2Co 4:16). Este estado de coisas em que prevalece o corpo corruptível e mortal continuará sendo parte da frágil condição humana até a ocasião quando a redenção for completada pelo retorno de Jesus (1Co 15:51-55) [Josimir Albino do Nascimento, Igreja Universal do Reino de Deus: antecedentes históricos, análise de doutrinas distintivas e proposta evangelística (Tese Doutoral, 2010), 429-431, 417].
As curas efetuadas por Jesus tinham um fim em si mesmo. Pois, havia muito sofrimento na Palestina em Seus dias, e a doença grassava, ceifando a vida de muitos. Contudo, objetivavam demonstrar a capacidade do Messias de curar também a alma sobrecarregada pelo pecado. As Suas curas abriam as portas do coração para a recepção de verdades ainda ocultas aos olhos daqueles sofredores (Mt 12:22-23; Mc 5:15; Lc 8:38-39, 56, etc.).
Curar é um dom do Espírito que deve acompanhar a Igreja até o fim (Mc 16:15-18). Mas, o Espírito é concedido aos que Lhe obedecem (At 5:32), ou seja, àqueles que não praticam iniquidade, que não violam a lei de Deus (Mt 7:23; 1Jo 3:4). A santa lei divina está consubstanciada nos dez mandamentos (Êx 20:1-17) e muitos líderes que realizam as supostas curas, também são os primeiros a ensinar a revogação da lei moral, deixando uma enorme brecha para a entrada do pecado na vida dos seus membros.

CONCLUSÃO
O crente verdadeiro está familiarizado com o sofrimento, assim como Jesus o foi. Sabe que nem sempre Deus cura, pois, frequentemente, a dor é uma ferramenta nas mãos da onipotência para polir o caráter. Por isso, o fato de não ficar curado, não significa que faltou fé, mas que há um propósito naquela enfermidade. O Senhor está acima de tudo e sabe qual a real necessidade dos Seus filhos. Ele advertiu à Sua Igreja quanto aos perigos dos sinais e maravilhas de mentira dos últimos dias. Mas, deixou uma evidência poderosa para indicar a diferença entre o falso e o verdadeiro. Ou seja, o Espírito Santo realiza verdadeiros milagres apenas através daqueles que obedecem à lei de Deus.

Este artigo é parte dos argumentos da tese doutoral do autor.

Pr. Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O SISTEMA DE DÍZIMO CONFORME O ENSINO BÍBLICO


INTRODUÇÃO


I - O DÍZIMO NO ANTIGO TESTAMENTO

    a)      Na Era Patriarcal
            A prática de devolução do dízimo não tem origem humana, mas foi ordenada pelo próprio Deus ao Seu povo. Ela faz parte do concerto salvífico, por isso, apenas aqueles que estão obrigados pelo pacto ou aliança com Deus devem dizimar, ainda que Deus o receba de quem O quiser devolver. Esse fato fica bem claro ao se considerar a primeira menção da prática na Bíblia, no encontro de Abrão com Melquisedeque, “rei de Salém” e “sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn 14:17-20).
A devolução foi feita à pessoa certa, um sacerdote do Deus Altíssimo, no momento em que este foi assim reconhecido, como uma forma de tributar a Deus os méritos pela vitória (v. 20) e também por ser “Deus Altíssimo, o que possui os céus e a terra” (v. 22). Jacó, neto de Abrão, também devolveu o dízimo como reconhecimento de que tudo que possuía havia sido outorgado por Deus (Gn 28:22).

    b)     Depois da Organização Política de Israel
Depois da saída do Egito e da organização do povo de Israel, a tribo de Levi foi encarregada de prestar serviços relacionados à tenda da congregação (Nm 18:21). As demais tribos poderiam se engajar em qualquer atividade lícita, como criar gado ou plantar, mas a tribo de Levi cuidaria dos “negócios” divinos. O sistema de dízimos foi a forma estabelecida por Deus para o sustento dessa tribo que deveria se dedicar integralmente às atividades litúrgicas (Nm 18:20-24).
Muito depois da era mosaica, no tempo de Malaquias (fins do século VI e início do século V a. C.), o dízimo continuava sendo usado para a manutenção da “casa do Tesouro” (Ml 3:10). Portanto, com o mesmo objetivo da época em que foi instituído o sistema levítico.
            Dessa forma, em relação ao Antigo Testamento, não há o que discutir. O dízimo foi estabelecido como parte do pacto entre Deus e o Seu povo escolhido. A prática é encontrada ao longo de todo o período da velha dispensação.

Como Deus Encara o Sistema do Dízimo

O ato de dizimar é baseado num princípio fundamental, como expresso pelo salmista, “ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.  Fundou-a ele sobre os mares e sobre as correntes a estabeleceu” (Sl 24:1-2). Quando Deus colocou o homem no jardim do Éden, permitiu que ele comesse de qualquer fruto, mas, vetou o fruto de uma das árvores. Daquela, o homem não poderia lançar mão (Gn 2:15-17). Ao olharmos o pano de fundo dessa ordem, percebemos o princípio do sistema de dízimos. O Senhor nos permite lançarmos mão de nove décimos, mas, um décimo Lhe pertence!
Foi por isso que ordenou ao seu povo no passado, “também todas as dízimas da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das árvores, são do SENHOR; santas são ao SENHOR. Se alguém, das suas dízimas, quiser resgatar alguma coisa, acrescentará a sua quinta parte sobre ela. No tocante às dízimas do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo do bordão do pastor, o dízimo será santo ao SENHOR (Lv 27:30-33).
Enquanto as ofertas estão relacionadas ao sacrifício de Jesus, pois, o sistema de ofertas só entrou em operação depois do pecado: “Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu” (Gn 3:21). A morte daquele primeiro cordeiro foi uma provisão divina para que Adão e sua mulher não pagassem a pena pela transgressão exigida pela lei (Rm 6:23; Ap 13:8). Aquele cordeiro foi uma figura ou sombra tipológica do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).
Portanto, ao dizimarmos, reconhecemos a soberania divina. Ele é o nosso Criador, por isso, devemos horná-Lo. Mas, quando damos as nossas ofertas, estamos ao mesmo tempo, agradecendo a maravilhosa provisão divina em nosso favor, Jesus Cristo, que rendeu a Sua preciosa vida por nós, a fim de não perecermos eternamente (Jo 3:16).

II - O DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento não aboliu o sistema de dízimos. Quando Jesus fundou a Igreja, também transferiu as prerrogativas do antigo povo eleito para o povo da nova aliança. O Senhor sempre teve um remanescente, depositário da Sua aliança e fiel ao Seu concerto, como pondera LaRondelle:

Paulo continua a teologia de Hebreus de que "o remanescente é que será salvo" (Rom. 9:27; citando Isa. 10:22-23 onde o remanescente de Israel retorna "ao Deus forte", verso 21). A mensagem de Paulo consiste em que Deus é fiel à Sua palavra porque mais uma vez proveu graciosamente de Israel um remanescente de fé, a igreja apostólica, através do poder criador de Sua promessa. "Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça" (Romanos 11:5). Os herdeiros legítimos do concerto mosaico e abraâmico não são os descendentes descrentes e naturais de Abraão ("Israel segundo a carne", 1 Coríntios 10:18), mas exclusivamente os seus filhos espirituais, aqueles que pertencem a Cristo [Hans k. LaRondelle, O Israel de Deus na profecia: princípios de interpretação profética, trad. Josimir Albino do Nascimento (Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2002), 150.].

Paulo defende a aplicação do sistema de dízimos para a manutenção daqueles que se dedicam integralmente à pregação do evangelho (1Co 9:6-14), embora tenha aberto mão desse direito (1Co 9:12, 15), pelo menos sobre a igreja de Corinto (2Co 11:7). Conforme argumenta Elmir Santos, “por causa da contestação do seu apostolado (2Co 11:5, 6) e para não dar ocasião aos falsos apóstolos (2Co 11:8 a 13), no entanto, usou desse direito aceitando salário de outras igrejas (2Co 11:8)” [Elmir P. Santos, Segundo dízimo: ampliando a visão sobre a oferta (Juiz de Fora, MG: Gráfica e Editora Juizforana, 2009), 20.]
O apóstolo defende a manutenção do ministério com base numa injunção do Antigo Testamento, na sua carta a Timóteo (1Tm 5:17-18), para que o ministro não precise se envolver em “negócios desta vida” (2Tm 2:4). Ou seja, de acordo com o Novo Testamento, o pastor deve se dedicar exclusivamente ao evangelho, nos moldes da antiga tribo de Levi, cuja atividade se concentrava em cuidar dos interesses de Deus “pastoreando” o Seu povo, enquanto, esse mesmo povo, lhe garantia o sustento material. Contudo, o exercício das atividades ministeriais deve ser efetuado “espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade” (1Pe 5:2).


III - JESUS E O DÍZIMO

            O Senhor Jesus afirmou em Mateus 5:17-20, “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.”
Em relação ao sistema de dízimos, Ele deixou claro no Seu diálogo com os líderes religiosos: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt 23:23 – grifo nosso).
Jesus era um Mestre ou Rabi, e como de costume, sustentado pelos seus discípulos. Esse fato é facilmente observado ao lermos Lucas 8:1-3, “Aconteceu, depois disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze iam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens” (grifo nosso).

IV – COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE SOBRE O DÍZIMO

    a)      Sua irrevogabilidade
Usa-se a mesma linguagem quanto ao sábado que se usa na lei do dízimo: "O sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus." Êxo. 20:10. Não tem o homem o direito nem poder para substituir o sétimo dia pelo primeiro. Poderá pretender fazê-lo, "todavia, o fundamento de Deus fica firme" II Tim. 2:19.
Os costumes e ensinos dos homens não diminuirão as exigências da lei divina. Deus santificou o sétimo dia. Essa porção específica de tempo, separada pelo próprio Deus para culto religioso, continua hoje tão sagrada como quando pela primeira vez foi santificada pelo nosso Criador.
De igual maneira, o dízimo de nossas rendas "santo é ao Senhor". O Novo Testamento não dá novamente a lei do dízimo, como também não dá a do sábado; pois pressupõe a validade de ambos, e explica sua profunda importância espiritual. ...
Enquanto nós como um povo estamos procurando dar fielmente a Deus o tempo que Ele conservou como Seu, não Lhe daremos também nós aquela parte de nossos meios que Ele exige? [Ellen G. White, Conselho Sobre Mordomia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 66, 1CD-Rom].

    b)     Sua Finalidade
De acordo com Ellen G. White, os propósitos do sistema do dízimo compreendem:
   1.      O “bem do homem” [Ellen G. White, Conselho sobre mordomia, 180]
   2.      Para despojar do egoísmo [Ibid., 24-26]
   3.      Desenvolver o espírito de gratidão [Idem, Nos lugares celestiais, MM 1968, 24 de outubro, 304.]
   4.      Porque Deus “reservou-o para Si, para ser empregado em fins religiosos” [Idem, Conselho sobre    mordomia, 6]
   5.      É uma questão de honestidade [Idem, Educação, 139]
   6.      Uma forma de reconhecer a Deus como “Doador de todas as coisas” [Idem, A fé pela qual eu vivo, MM 1959, 26 de agosto, 244.]
   7.      “para levar avante a obra do evangelho” [Ibid.].

    c)      Advertência aos Pastores
Nomeie a igreja pastores ou anciãos que sejam dedicados ao Senhor Jesus, e cuidem esses homens de que se escolham oficiais que se encarreguem fielmente do trabalho de recolher o dízimo. Se os pastores não se demonstrarem aptos para o cargo, se deixarem de apresentar à igreja a importância de devolver ao Senhor o que Lhe pertence, se não cuidarem de que os oficiais que estão sob suas ordens sejam fiéis, e que o dízimo seja trazido, estão em perigo. Estão negligenciando uma questão que envolve uma bênção ou maldição para a igreja. Devem ser afastados de sua responsabilidade, e outros homens devem ser experimentados e provados.
Devem os mensageiros do Senhor cuidar de que os membros da igreja Lhe cumpram fielmente as ordens. Deus diz que deve haver mantimento em Sua casa, e se se lidar indevidamente com o dinheiro do tesouro, se se considerar direito as pessoas usarem o dízimo como quiserem, o Senhor não poderá abençoar. Ele não pode suster os que pensam poder fazer o que querem com o que Lhe pertence (Ellen G. White, Conselho Sobre Mordomia, 106).
Sobre o caráter da benevolência sistemática, Ellen G. White faz um comentário auspicioso ao dizer: “é belo em sua simplicidade e equidade. Todos podem dele lançar mão com fé e ânimo, pois é divino em sua origem. Nele se aliam a simplicidade e a utilidade, e não exige profundidade de saber o compreendê-lo e executá-lo” [Ibid.].


CONCLUSÃO

            O dízimo não é para ser devolvido por aqueles que estão fora da aliança, a não ser que queiram. Deus exige a prática apenas do Seu povo escolhido, os que fizeram um pacto de amor com Ele. Assim como era exigido do povo de Israel o sustento da tribo de Levi, tendo em vista que esta deveria cuidar da liturgia e dos negócios divinos para que todo o povo de Deus fosse assistido, assim também, os “que pregam o evangelho que vivam do evangelho” (1Co 9:14). Mesmo Jesus viveu da provisão continuada no Novo Testamento (Lc 8:1-3), e depois Dele, os apóstolos, como exemplificação e paradigma para toda a dispensação neotestamentária.
            No entanto, aqueles que vivem do evangelho devem ser homens consagrados, dedicados e honestos, não movidos por “sórdida ganância, mas de boa vontade” (1Pe 5:2). O sistema foi estabelecido para o bem do homem, a fim de desenvolver o espírito de gratidão e louvor, para que Deus seja reconhecido como soberano, para provar a honestidade do crente e despojá-lo do egoísmo.
Enquanto a devolução do dízimo é um ato que expressa gratidão pela Criação divina, a oferta é um ato de reconhecimento pelo que Cristo fez na cruz do Calvário, doando-Se inteiramente a favor do ser humano, a fim de lhe outorgar a salvação e ainda prover um exemplo magnânimo de abnegação.
Os pastores e anciãos que são leais ao seu mandado devem instruir a igreja quanto à devolução daquilo que pertence ao Senhor, do contrário, estarão negligenciando um dever da maior importância. Dessa forma, também provando estar desqualificados para a função.
            O sistema é simples e belo, e todo o que liberalmente devolve o dízimo cresce como cristão e como pessoa humana, pois, ele humaniza, desenvolve a abnegação, despoja o homem de si mesmo e faz pensar em Deus e na Sua grande obra de evangelizar o mundo.


Pr. Josimir Albino do Nascimento, Doutor em Teologia Pastoral